África tornou-se "lucrativa" para empresas chinesas de segurança privada
As empresas chinesas de segurança privada encontraram em África um "lucrativo nicho de mercado", através da prestação de serviços de proteção a executivos, locais de construção e navios chineses, disse à Lusa um investigador.
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Mundo Investigador
Em Angola, República Democrática do Congo, Mali, Sudão do Sul ou Nigéria, antigos membros da polícia paramilitar chinesa e do Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas chinesas, estão a assumir funções de segurança privada, contou Alessandro Arduino, um dos poucos investigadores nesta área, à agência Lusa.
A procura pelos serviços de segurança privada aumentou no âmbito da iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota", o gigantesco plano de infraestruturas internacional lançado por Pequim, em 2013, e que inclui a construção de autoestradas, linhas ferroviárias, aeroportos e centrais elétricas no continente africano.
"Em nações como a República Democrática do Congo, Sudão ou Sudão do Sul, existe carência de serviços de segurança prestados pelo Governo, devido à contínua instabilidade política", descreveu Arduino, que é investigador na Universidade Nacional de Singapura.
"A dependência da China destes países para obter recursos explica por que Pequim está mais preocupada com a segurança em África", observou.
Trabalhadores e executivos chineses são frequentemente vítimas de sequestro em África, em parte devido à perceção de que têm muito dinheiro em mão ou trabalham para empresas chinesas dispostas a pagar altos resgates.
No início deste ano, três cidadãos chineses que trabalhavam na barragem Sino-Hydro, no Níger, foram sequestrados por homens armados e dois dos seus colegas locais foram mortos. No ano passado, homens armados sequestraram quatro chineses que trabalhavam na construção de linhas ferroviárias e mataram a sua escolta policial, no estado nigeriano de Ogun.
"Na última década, a China reconheceu que confiar apenas no desenvolvimento económico dos países africanos não é suficiente para proteger os seus trabalhadores e projetos", apontou o investigador.
A retirada de dezenas de milhares de chineses durante os conflitos na Líbia e no Iémen ilustrou já o aumento da capacidade das Forças Armadas chinesas de protegerem cidadãos no exterior.
Mas o princípio de não-intervenção continua a constituir uma pedra basilar da política externa chinesa, limitando a atuação do exército chinês para proteger alvos individuais, lembrou o investigador.
Arduino notou que a emergência das empresas chinesas de segurança privada em África surge também durante um período em que a arquitetura de segurança global está em "transição".
"Os Estados Unidos estão a deixar de ser o polícia do mundo para assumir uma posição mais balanceada, na qual usam as suas alianças estratégicas e intervêm para proteger os seus interesses no exterior apenas quando é necessário", afirmou.
O investigador frisou a necessidade de a China e os países africanos negociarem acordos bilaterais e multilaterais para o setor da segurança privada. No seu entender, "são precisos códigos de conduta para supervisão, regulação e cooperação".
"A ausência de regulamentos pode levar a repercussões negativas, com as empresas de segurança privada a abusarem da autoridade ou a deixarem de operar de acordo com diretrizes claras, ou ao surgir de mercenários irresponsáveis e milícias estrangeiras desonestas", frisou.
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