Diretor da OMS e falta de ação no Tigray. "Talvez seja pela cor da pele"

O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) descreveu, esta quarta-feira, o conflito na região etíope de Tigray como "o pior desastre na Terra" e questionou-se se será devido à "cor da pele" deste povo que o mundo não ajuda.

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Lusa
17/08/2022 22:45 ‧ 17/08/2022 por Lusa

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Tigray

Numa declaração emocionada numa conferência de imprensa, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ele próprio de etnia Tigray, disse que a situação na região é pior do que qualquer outra crise humanitária no mundo.

Afirmou que os seis milhões de habitantes de Tigray estão essencialmente "sitiados" há 21 meses.

Para o diretor-geral da OMS, a comunidade global está potencialmente "a caminhar sonâmbula para uma guerra nuclear" na Ucrânia, o que poderia ser "a mãe de todos os problemas", mas argumentou que o desastre em Tigray é muito pior.

"Não ouvi nos últimos meses nenhum chefe de Estado de nenhum país desenvolvido falar da situação no Tigray. Porquê?", questionou Tedros.

"Talvez a razão seja a cor da pele das pessoas no Tigray", afirmou.

Em abril, Tedros questionou se o foco desmesurado do mundo na guerra da Rússia contra a Ucrânia se devia ao racismo, mas admitiu que o conflito na Europa tem consequências globais.

O conflito no Tigray começou no início de novembro de 2020 quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal, apoiado por forças regionais de Amhara e do exército da Eritreia, para desalojar as autoridades rebeldes da região do Tigray.

Inicialmente derrotados, os rebeldes do Tigray recuperaram o controlo da região no decurso de 2021.

Os combates quase cessaram desde uma trégua em março, mas a situação humanitária continua catastrófica naquela região do norte da Etiópia, aonde pouca ajuda humanitária tem chegado desde então.

Alguma ajuda tem vindo a fluir nos últimos meses, mas é descrita como desadequada para suprir as necessidades dos milhões de pessoas ali presas.

Segundo Tedros, a população de Tigray não tem acesso a medicamentos ou telecomunicações e está impedida de sair da região.

No entanto, o Comité Internacional da Cruz Vermelha relatou remessas de medicamentos nos últimos meses.

"Em nenhum lugar do mundo se vê esse nível de crueldade, onde um governo castiga seis milhões de pessoas por mais de 21 meses", disse o líder da OMS. "A única coisa que perguntamos é: 'O mundo pode voltar a si e defender a humanidade?'".

Tedros pediu aos governos etíope e russo que acabem com as crises em Tigray e na Ucrânia.

"Se querem paz, podem fazê-la acontecer e apelo a ambos para que resolvam estes assuntos", disse.

Esta não foi a primeira vez que o líder da OMS falou sobre Tigray.

No início do ano, o Governo da Etiópia enviou uma carta para a OMS a acusar Tedros de "má conduta" após as suas críticas à guerra e à crise humanitária no país.

Adis Abeba disse que Tedros usa o seu cargo para "promover seu interesse político às custas da Etiópia" e acusou-o de continuar a ser um membro ativo da Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF).

Tedros era ministro dos Negócios Estrangeiros e ministro da Saúde da Etiópia quando a TPLF dominava a coligação governante do país.

Quando Tedros foi confirmado para um segundo mandato à frente da OMS, foi a primeira vez que o país de origem de um candidato não apoiou o seu próprio candidato.

Leia Também: Sobe para seis o número de mortos em ataque russo em Kharkiv

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