Depois do desfile cívico-militar pelas comemorações do bicentenário da independência, em Brasília, Bolsonaro cruzou a Esplanada dos Ministérios, juntamente com a sua mulher, Michelle, e dirigiu-se a um trio elétrico, um palco improvisado, para discursar aos milhares de apoiantes que o esperavam.
Desde que Bolsonaro tomou posse, um dia que outrora pertencia a todos os brasileiros, tornou-se num feriado para demonstração de força política da direita conservadora, assim como a bandeira brasileira e a camisola 'canarinha' da seleção, que se tornaram símbolos do 'bolsonarismo' e, hoje, não foi exceção.
"Tão bom ver esta esplanada lotada de patriotas", afirmou Michelle Bolsonaro aos milhares de apoiantes que enchiam a Esplanada dos Ministérios, minutos depois de ter estado no palanque do desfile junto ao seu marido, ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e aos chefes de Estado de Cabo Verde, José Maria Neves, e da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.
"Estamos aqui lutando pelo bem maior que é a nossa família e a nossa liberdade por princípios e valores que Deus estabeleceu na terra", para cumprir um chamamento de Deus, exclamou, para delírio do público.
Minutos depois, o 'speaker' com um chapéu de cowboy, chamou a falar o Presidente brasileiro, que, em dia de bicentenário da independência, aproveitou para fazer campanha eleitoral.
"A nossa liberdade é essencial para a nossa vida", afirmou o chefe de Estado brasileiro, lembrado o ataque sofrido com uma faca há quatro anos durante a sua primeira campanha presidencial: "Deus deu-me uma segunda vida e missão".
"Hoje tem um Presidente que acredita em Deus e que respeita os seus militares, um Governo que defende a família", disse, tentando depois fazer o contraponto com Lula da Silva, o candidato que surge na frente em todas as sondagens: não quer drogas, legalização do aborto, que não admite a ideologia de género" e "respeita e propriedade privada".
"Esta é uma luta do bem contra o mal, o mal que perdurou 14 anos no nosso país", disse, referindo-se aos governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores).
"Não voltarão", exclamou, para regalo dos milhares de apoiantes que entoaram um dos clássicos cânticos contra Lula: "Lula ladrão, seu lugar é na prisão".
Vendo a Esplanada dos Ministérios coberta de 'verde e amarelo', Bolsonaro afirmou duvidar das sondagens que o colocam em segundo lugar na corrida presidencial.
"Aqui não tem a mentirosa datafolha [mais famosa empresa de sondagens do Brasil], aqui é o datapovo", disse, frisando: "A vontade do povo se fará presente no 02 de outubro".
Apesar do forte discurso, Bolsonaro, desta vez, não lançou dúvidas sobre o sistema eleitoral, nem teceu ataques a juízes, uma posição que já tinha sido antecipada por analistas citados pela imprensa local que disseram acreditar que o tom de Jair Bolsonaro seria mais brando até para atenuar a sua taxa de rejeição que, a menos de um mês do seu 'embate' eleitoral com Luiz Inácio Lula da Silva, se situa nos 52%.
Bolsonaro deixou esses ataques para o seu 'datapovo' que, tanto do desfile oficial, como na concentração paralela, empunhavam cartazes a pedir a destituição de Alexandre de Moraes, o novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a defender a intervenção de militares na contagem dos votos.
O Presidente e candidato presidencial seguiu depois para o Rio de Janeiro, para perto da Praia de Copacabana, onde estão previstas manifestações da Marinha e Aeronáutica, além de uma demonstração de apoio ao chefe de Estado.
A campanha de Lula da Silva, líder em todas as sondagens presidenciais, decidiu deixar as ruas para Bolsonaro, a fim de evitar possíveis confrontos.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, assistiu hoje ao desfile cívico-militar do 07 de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, mesmo no centro da tribuna, ao lado do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Marcelo Rebelo de Sousa ficou a maior parte do tempo entre o Presidente e o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, enquanto os outros dois chefes de Estado presentes em Brasília, Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau, e José Maria Neves, de Cabo Verde, ficaram um pouco mais afastados, junto à mulher de Jair Bolsonaro, Michelle.
Esta foi uma cerimónia institucional com ambiente de campanha eleitoral, perante uma multidão vestida de verde e amarelo, durante a qual se ouviram gritos de apoio a Bolsonaro e palavras de ordem contra o ex-presidente do Brasil Lula da Silva, seu adversário na eleição presidencial de 02 de outubro.
Durante algum tempo, o lugar do chefe de Estado português na tribuna foi tomado pelo empresário brasileiro Luciano Hang, apoiante de Bolsonaro, que teve acesso ao espaço do próprio desfile, onde foi saudar a multidão.
O desfile cívico-militar do feriado em que se comemora a independência do Brasil em relação a Portugal, proclamada há 200 anos, durou cerca de duas horas. Altas entidades brasileiras como os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Suprem Tribunal Federal não compareceram.
Na Esplanada dos Ministérios desfilaram desde viaturas militares a tratores e outras máquinas agrícolas e carros de bombeiros. Aeronaves e helicópteros militares cruzaram o céu de Brasília.
Leia Também: Ovações a Bolsonaro? "É-me indiferente. Eu venho representar Portugal"