Numa curta marcha de cerca de um quilómetro até ao Washington Square Park, local final do protesto, o ambiente era de indignação e os pedidos eram por justiça e liberdade para a população iraniana, especialmente para as mulheres, que estão sujeitas a duras regras, como a cobrir totalmente o cabelo em público.
Juntamente com bandeiras do Irão, a multidão de manifestantes levantou cartazes com mensagens como "Não ao Hijab [véu islâmico] obrigatório", "Recordar Masha Amini", "O poder das pessoas é maior do que as pessoas no poder", "O meu corpo, as minhas escolhas" ou "Isto é uma revolução".
Em declarações à agência Lusa, uma jovem iraniana que não se quis identificar disse acreditar que depois de todos estes protestos a nível mundial, "as coisas nunca mais serão como eram, haverá uma mudança".
"Queremos liberdade para as mulheres do Irão, queremos democracia. Tenho família lá e a situação é má, as pessoas estão com a vida em risco por saírem à rua para protestar. Há muita gente a ser morta, não sabemos o número certo mas, neste momento, serão mais de 100 mortos, por mostrarem o cabelo, por cantarem músicas sobre liberdade. Mas essas pessoas estão lá, a arriscar as suas vidas, por isso nós estamos aqui hoje, a apoiá-las", disse a jovem.
Manijeh Saba, uma mulher de 75 anos, nascida no Irão, mas a viver nos Estados Unidos "há muitos anos", afirmou estar cansada de ver o seu povo reprimido ao longo de décadas.
Contudo, também ela acredita que a mudança estará para breve.
"Quarente e quatro anos deste regime no Irão... É isso que me traz aqui hoje. O regime sequestrou o país todo. A maioria da minha família saiu do Irão, só lá ficou uma irmã, mas tenho esperança que a situação irá mudar, senão não estaria na rua, a protestar", disse.
"Tenho também uma mensagem para os líderes ao redor do mundo: os Direitos Humanos têm de estar garantidos para todos, homens e mulheres. As mulheres têm direito à vida, à liberdade também. Todos os líderes têm de aceitar isto", exortou Saba.
No Irão, é obrigatório cobrir o cabelo em público. A polícia fiscaliza ainda as mulheres que usam casacos curtos, acima do joelho, calças justas e 'jeans' com buracos (ou rotos), além de roupas coloridas, entre outras regras.
Uma outra jovem, de 22 anos, que preferiu não se identificar, disse que, apesar de ter nascido nos Estados Unidos, as raízes da sua família estão no Irão, pelo que continuará a lutar pela liberdade do país.
"Os meus pais são do Irão, o meu pai escapou da revolução. Toda a situação no país está muito atrasada. Acredito que a situação mudará, porque o povo do Irão está mais unido do que muitas outras nações. Basta olhar para a quantidade de iranianos que estão a sair às ruas aqui, na América, em vários estados. E no Irão, as multidões estão a fazer as polícias fugir. Estamos unidos", assegurou.
Em Nova Iorque, vários manifestantes têm optado por não se identificar em entrevistas, temendo represálias ou perseguições por parte do Governo iraniano, quer contra eles próprios, quer contra as suas famílias no Irão.
O Irão foi abalado por uma vaga de protestos após a morte de Masha Amini, de 22 anos, em 16 de setembro, alguns dias após a sua detenção por ter infringido o estrito código sobre o uso de vestuário feminino previsto nas leis da República islâmica, em particular o uso do véu.
Desde então, o rosto da jovem tem sido estampado em cartazes de protesto ao redor do mundo, que pedem uma mudança drástica no país islâmico.
Até ao final desta reportagem, nem a polícia, nem a organização do protesto em Nova Iorque tinham o número exato das pessoas presentes na manifestação, mas indicaram que rondaria os cinco mil.
Leia Também: Ataque armado no Irão mata 19 pessoas. Guardas da Revolução entre vítimas