Pelo menos dois ministérios - Finanças e Relações Exteriores - deverão ser atribuídos a tecnocratas por Meloni, líder do partido Irmãos de Itália (FdI, na sigla em italiano) vencedora das últimas eleições no país.
Emiliano Fittipaldi, escritor e jornalista do semanário L'Espresso, disse à Lusa que o estado das finanças públicas italianas "é catastrófico", tal como a situação energética, sendo Itália o país que receberá mais fundos europeus para relançamento económico, e por isso Meloni "deve encontrar um ministro das Finanças sério, capaz e competente que tranquilize a Europa e os mercados", que poderá ser Fabio Panetta, membro do Comité Executivo do Banco Central Europeu.
"Panetta é um homem de cultura de direita que ainda não está convencido, apesar da pressão sobre ele também vinda do primeiro- ministro cessante Mario Draghi (mas) provavelmente pretende tornar-se presidente do BCE e ser ministro impedi-lo-ia", disse Fittipaldi.
Também referidos na imprensa para as Finanças são Domenico Siniscalco e Giulio Tremonti, ambos próximos de Silvio Berlusconi, líder do partido Força Itália (FI) e parceiro de Meloni juntamente com a Liga (extrema-direita) de Matteo Salvini.
Para Fittipaldi, Tremonti seria catastrófico como ministro, uma vez que "é considerado o responsável pela crise do 'spread' em que a Itália caiu em 2011 e que levou à demissão de todo o governo".
Para as Relações Exteriores, são apontados Elisabetta Belloni, atual diretora do departamento que coordena os serviços secretos italianos, e Antonio Tajani, coordenador da FI, cujas posições consideradas apologéticas da invasão da Ucrânia pela Rússia causaram polémica.
Salvini afirmou repetidamente que quer voltar ao Ministério do Interior, mas Giorgia Meloni não parece disposta a tal, ainda que esteja aberta a outra personalidade da Liga, segundo Fittipaldi.
Paralelamente, o Governo deverá incluir personalidades indefectíveis, "que estão com Meloni há 30 anos", disse à Lusa, Pietro Salvatori, jornalista político do site Huffington Post Itália.
O 'núcleo duro' de Meloni inclui Fabio Rampelli e Francesco Lollobrigida, estes próximos desde a universidade e com quem tem até relações familiares. Para ambos "estão em consideração papéis importantes no Parlamento", explica Salvatori.
A partir da militância juvenil, Meloni venceu as eleições provinciais e mais tarde Berlusconi chamou-a para ministra da juventude no governo. A fundação do FdI, com Guido Crosetto e Ignazio La Russa, surge depois da queda do governo Berlusconi em 2011.
"Eles são de uma geração anterior à dela e também têm experiências diferentes. Crosetto é um liberal que vem do mundo do empreendedorismo. La Russa também vem da militância política, mas da dos anos 70, quando na Itália os confrontos de rua estavam na ordem do dia e havia mortos e feridos entre polícias e manifestantes", disse Salvatori.
"Meloni é muito grata a ambos, porque sempre estiveram com ela e nunca questionaram a sua liderança", adiantou.
Segundo Salvatori, La Russa poderá ser o próximo coordenador dos serviços secretos e Crosetto assumir um ministério de peso.
Das hostes do seu partido, Meloni poderá ainda apostar em Maurizio Leo, professor universitário e especialista em questões fiscais, para conduzir uma reforma tributária numa pasta das Finanças ou Economia.
Enquanto o Governo é formado, sucedem-se casos embaraçosos para o FdI, ligados às simpatias neofascistas de alguns membros.
Romano La Russa, irmão do conselheiro regional partidário em Milão, participou recentemente no funeral de um elemento da extrema-direita milanesa fazendo a 'saudação romana' (fascista) diante do caixão, juntamente com outros presentes.
Carlo Fidanza, ainda em funções no Parlamento Europeu apesar de auto-suspenso do partido, surgiu a elogiar Hitler num vídeo filmado durante um jantar de campanha. "Fidanza era uma das pessoas em quem Meloni mais confiava e ela ficou profundamente decepcionada com aquele vídeo", disse Salvatori.
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