Diplomatas na ONU condenam agressão russa e Moscovo defende anexações
As várias delegações diplomáticas que discursaram na segunda-feira numa reunião de emergência da Assembleia-Geral da ONU condenaram as anexações e os ataques perpetrados pela Rússia contra a Ucrânia, enquanto Moscovo defendeu a incorporação dos territórios ucranianos.
© Reuters
Mundo Ucrânia/Rússia
Ao longo da reunião - que antecedeu uma resolução que procura condenar a "tentativa de anexação ilegal" de quatro regiões ucranianas e que será votada esta semana -, vários países condenaram os referendos levados a cabo pela Rússia e denunciaram a sua natureza ilegal, deixando claro que essas áreas continuam a pertencer à Ucrânia apesar das anexações feitas por Moscovo.
De fora das declarações dos embaixadores não ficaram os ataques mortais lançados na segunda-feira pela Rússia contra várias cidades ucranianas, que provocaram, pelo menos, 14 mortos e 97 feridos.
Contudo, o foco desta reunião de emergência foram as anexações russas, com vários diplomatas a considerarem ultrajante a ideia de um país realizar um referendo falso em outro país, lançando duras criticas ao Presidente russo, Vladimir Putin.
"Putin está a tentar tirar aos ucranianos as suas terras, os seus recursos, a sua identidade...e ao fazê-lo está a derrubar o princípio mais sagrado no sistema internacional: que as fronteiras não podem ser desenhadas pela força", disse a embaixadora do Reino Unido na ONU, Barbara Woodward.
Em nome dos oito países nórdicos-bálticos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Letónia, Lituânia, Noruega, Suécia e Estónia), o embaixador da Letónia, Andrejs Pildegovics, instou todos os 193 Estados-Membros da ONU a rejeitarem os "falsos referendos" da Rússia, assim como a sua tentativa ilegal de anexar qualquer parte do território ucraniano, e a defender a Carta das Nações Unidas.
"Reiteramos o nosso apoio inabalável à independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas. As tentativas ilegais russas de alterar o estatuto das regiões ucranianas não têm validade legal", disse o representante diplomático.
"Sabemos o que é anexação e ocupação. Nós experimentamos isso durante e após a Segunda Guerra Mundial. Portanto, devemos fazer todo o possível para defender a Carta da ONU. Os países nórdicos e bálticos votarão a favor desta resolução e apelarão aos Estados-Membros para que façam o mesmo", exortou Pildegovics.
Além de exigir que a Rússia reverta a anexação de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, a resolução apoiada pelo ocidente declara que as ações de Moscovo violam a soberania e a integridade territorial da Ucrânia e são "inconsistentes" com os princípios da Carta da ONU.
A resolução proposta diz que as anexações também "não têm validade sob o direito internacional e não formam a base para qualquer alternância do estatuto dessas regiões da Ucrânia".
O documento exige que a Rússia "retire imediata, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares do território da Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas" de forma a permitir a resolução pacífica do conflito, através do "diálogo político, negociações, mediação e outros meios pacíficos".
Por sua vez, o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, insistiu que o seu país está a atuar na Ucrânia em defesa de uma população cujos direitos estão a ser pisoteados e garantiu que os referendos foram realizados com todas as garantias.
Nebenzya defendeu ainda que estes movimentos não violam o direito internacional, ao contrário do que afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
O representante russo também acusou as potências ocidentais de terem um duplo padrão, por ter aceitado no passado a segregação de Kosovo e agora oporem-se à divisão destas regiões ucranianas e a sua adesão à Rússia.
Além disso Nebenzya, indicou que o Governo de Kiev perdeu toda a legitimidade nessas áreas e entre os habitantes de língua russa do país.
Além disso, Moscovo pediu mais uma vez que a votação da resolução - que deverá ocorrer na quarta-feira, quando a reunião será retomada - seja secreta, mas a sua proposta foi derrotada pela maioria dos Estados-membros.
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