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EUA. Observadores treinam para vigiar votos e ativistas pegam em armas

No Partido Democrata dos EUA cresce o receio de que alguns candidatos republicanos possam não aceitar os resultados das eleições intercalares, enquanto observadores treinam para vigiar mesas de votos e militantes ameaçam usar armas.

EUA. Observadores treinam para vigiar votos e ativistas pegam em armas
Notícias ao Minuto

08:22 - 30/10/22 por Lusa

Mundo Eleições nos EUA

Nas últimas semanas, vários 'media' locais norte-americanos, em diferentes estados, têm relatado intimidação contra candidatos democratas por parte de ativistas ligados a grupos radicais de extrema-direita, que ameaçam contestar os resultados das eleições intercalares de novembro.

Nas vésperas das primeiras eleições nos Estados Unidos desde a invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, as autoridades norte-americanas receiam que se possam repetir episódios de rejeição de resultados eleitorais, à semelhança do que aconteceu nas eleições presidenciais de 2020, com apoiantes do ex-Presidente republicano Donald Trump.

Um estudo do Brookings Institution revelava pelo menos 345 candidatos que estarão nos boletins de voto nas eleições intercalares e que afirmam publicamente que as eleições presidenciais de 2020 foram "roubadas" a Trump, incentivando os seus apoiantes a tomarem medidas para evitar uma repetição deste cenário.

A ameaça tinha começado já durante as eleições primárias, em maio, em estados como Arizona, Carolina do Norte, Colorado, Nebraska e Nevada, onde alguns observadores associados a esses grupos radicais tinham tomado atitudes agressivas junto das mesas de voto.

Alguns desses ativistas gritavam o 'slogan' inaugurado pelos apoiantes de Trump em 2020, "Stop the steal" ("Parem o roubo"), empunhando cartazes com frases críticas para o sistema democrático norte-americano, alguns deles transportando coldres com armas.

Numa página de um desses grupos, ativistas desafiavam observadores eleitorais e levarem armas nos seus carros (já que estão impedidos de entrar com elas nas salas de mesas de voto), para o caso de terem de recorrer a elas, na eventualidade de distúrbios no dia das eleições internacalares.

Em declarações à estação televisiva britânica BBC, dois republicanos do Arizona admitiram que poderão pegar em armas e participar no que qualificaram de "nova guerra civil", ao mínimos sinal de distorção dos resultados eleitorais, admitindo que um bom resultado do seu partido nestas intercalares é muito importante para uma futura vitória presidencial de Trump.

Em Pima, no Arizona, em maio, a polícia teve de ser chamada para obrigar um ativista a não usar os binóculos que tinha levado para a porta de uma das mesas de voto onde militantes participavam nas primárias do Partido Republicano para escolher os candidatos para as eleições de novembro.

Na mesma altura, em Chapel Hill, Carolina do Norte, as autoridades tiveram de intervir para acalmar uma pequena multidão que se agrupou junto a uma mesa de voto gritando palavras de ameaça contra os delegados que contavam votos, acusando-os de estarem a deturpar a verdade democrática.

Nas primárias em junho, em Washoe, Nevada, pessoas com óculos de visão noturna permaneceram à porta de um edifício de registo eleitoral, vigiando a atividade de funcionários eleitorais.

Liz Garden, dirigente do Partido Democrata em Phoeniz, Arizona, confessou à Lusa que está preocupada com as movimentações de grupos radicais de extrema-direita - muitos deles apoiantes declarados de Trump e entusiastas de uma sua recandidatura presidencial -- temendo que eles possam regressar nas eleições intercalares, perturbando o processo de contagem de votos.

"Eles andam a desenvolver práticas de sabotagem eleitoral, organizando mesmo 'workshops' para ensinar o que se pode considerar terrorismo político", disse Garden à Lusa, referindo-se a aulas 'online' que vários grupos desenvolvem para treinar ativistas a criar distúrbios em mesas de voto.

Um desses grupos, no estado da Pensilvânia, intitula-se Audit the Vote (Auditar o Voto) e tem feito reuniões por vídeoconferência, reunindo dezenas de pessoas, a quem treinam a evitar que se repita o que consideram ter sido uma "vitória ilegítima" do atual Presidente, Joe Biden, nas eleições presidenciais de 2020.

Um outro grupo, Election Integrity Network (Rede de Integridade Eleitoral), está a treinar observadores para detetar falhas nos boletins de voto, para obter argumentos válidos na eventualidade de ser necessário pedir a recontagem de votos.

Mas também o próprio Partido Republicano, a nível oficial, anda a preparar-se para garantir "a integridade do ato eleitoral" de novembro, aumentando substancialmente o recrutamento de observadores para as mesas de voto, dizendo temer que o Partido Democrata esteja a ensaiar "novo ato de corrupção eleitoral", nas palavras de um comunicado dos republicanos enviado a milhares de militantes.

Até meados de outubro, o Partido Republicano já tinha treinado mais de 60.000 observadores, para "detetar sinais de atividades ilícitas" por parte de candidaturas adversárias, continuando a recolher fundos para contratar juristas especializados em regras eleitorais, para a eventualidade de conflitos jurídicos nos tribunais.

Na Carolina do Norte, o Partido Republicano já apresentou um pedido junto dos tribunais para ter direito a inspecionar os tabuladores das máquinas de contagem de votos, para verificar se estão de acordo com as leis eleitorais estaduais, aumentando os receios de perturbação das intercalares por parte das autoridades.

"Aqui no Arizona, dirigentes e candidatos democratas estão a ser intimidados para que possam permitir ações de vigilância de contagem de votos que, na verdade, não estão estabelecidos por lei", disse Liz Gardner, confirmando relatos que se multiplicam em vários estados, sobre comportamentos agressivos de ativistas de extrema-direita, preparando o ambiente de tensão no dia eleitoral.

Ainda assim, as autoridades federais acreditam que o processo eleitoral vai decorrer com normalidade.

O Departamento de Justiça já emitiu um comunicado admitindo que está a acompanhar a atividade dos grupos radicais, mas assegurando que dispõem de meios para conter qualquer ação subversiva que possa colocar em causa a veracidade democrática.

Leia Também: Eleições: Biden vota e diz que intercalares não são um referendo

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