O Governo chefiado pela líder de extrema-direita Giorgia Meloni permitiu que estas embarcações humanitárias entrassem em águas territoriais italianas para se abrigarem da tempestade no canal da Sicília, mas proíbe-as de atracarem num porto e de desembarcarem as pessoas resgatadas.
Existem atualmente quatro navios com um total de 1.078 migrantes ao largo da costa leste da Sicília.
Três deles concordaram em entrar em águas italianas para se abrigarem do mau tempo: o Humanidade 1, com bandeira alemã e 179 migrantes, o Geo Barents dos Médicos sem Fronteira (MSF) com 572 resgatadas e de bandeira norueguesa, e o também alemão Rise Above, com 93 pessoas resgatadas, duas das quais foram transportadas para Itália por razões médicas.
Um quarto navio, o Ocean Viking, da SOS Méditerranée, com outros 234 migrantes a bordo e bandeira norueguesa, permanece fora das águas territoriais italianas, ao largo da Catania.
O executivo de Meloni continua a não deixar aportar navios de Organizações não Governamentais (ONG) e bandeira estrangeira, na sequência da política de portos fechados promovida entre 2018 e 2019 pelo então ministro do Interior, Matteo Salvini, líder da Liga, partido também de extrema-direita, e atual vice-presidente do Governo e ministro das Infraestruturas.
O novo ministro do Interior, Matteo Piantedosi, anunciou na sexta-feira que os navios das ONG podiam entrar em águas territoriais para se refugiarem do mau tempo e que as autoridades italianas iriam verificar a situação a bordo, acolhendo apenas os migrantes mais necessitados.
Os restantes seriam devolvidos nos navios humanitários a águas internacionais após esse controlo, porque, segundo Roma, o acolhimento destas pessoas é da responsabilidade dos estados de bandeira dos navios, ou seja, da Alemanha e da Noruega.
Entretanto, a situação degrada-se e, no caso do Rise Above, houve já alguns momentos de tensão e lutas entre migrantes em resultado do desespero, frio e chuva, explicou à agência de noticias EFE o seu capitão, o espanhol Marco Antonio Martinez.
No Geo Barents começa a faltar comida para as 572 pessoas que estão a bordo há dez dias, incluindo três grávidas e mais de 60 menores e crianças pequenas, segundo os responsáveis do navio.
A responsável pela comunicação, Cândida Lobes, disse que, dada a aglomeração, não é possível garantir "elevados padrões de higiene" e que as infeções respiratórias e cutâneas já se estão a espalhar.
"Tivemos de racionar a água porque não há o suficiente dada a presença prolongada a bordo de quase 600 pessoas. O nosso abastecimento alimentar está a esgotar-se e isso é simplesmente inaceitável", afirmou.
O capitão da Humanidade 1, Joachim, pediu "com urgência" um porto seguro para desembarcar porque a situação é precária, com 179 migrantes que estão no convés há quase duas semanas e, além disso, em "pouco tempo" o barco ficará sem comida.
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