"Perdas e danos não são o tema abstrato de um diálogo sem fim. É a nossa experiência diária e o pesadelo vivo sofrido por milhões de africanos", disse William Ruto, em nome do Grupo África, na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27).
O chefe de Estado queniano referia-se à relutância dos países ricos em criar um mecanismo específico para ajudar os mais pobres a lidar com os danos já causados ??pelos impactos do aquecimento global.
Para Ruto, é "correto e apropriado" que a "conferência tome as medidas necessárias para reconhecer as circunstâncias e necessidades especiais de África", após o que enumerou a longa lista de desastres naturais sofridos pelo continente, em particular as secas.
"Nos últimos 50 anos, as secas mataram meio milhão de pessoas e causaram perdas económicas de mais de 70 mil milhões de dólares [cerca de 69,9 mil milhões de euros, ao câmbio atual] na região", vincou.
Ruto acrescentou que "o Corno de África, incluindo o Quénia, está a passar pela pior seca em 40 anos", descrevendo a "angústia de milhões de pessoas".
"A famosa vida selvagem do Quénia não foi poupada. Carcaças de elefantes, zebras, gnus e outros animais selvagens sujam nossos parques. Gastamos 3 milhões de dólares [2,9 milhões de euros] para lhes trazer comida e água", apontou.
"Como esta COP27 decorre no nosso continente, que está a sofrer grande parte das mudanças climáticas, contribuindo menos para isso, esperamos que esta COP resolva os nossos principais problemas", advogou o Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema.
Assim, "as longas discussões nas COP, com as suas táticas de atraso e adiamento" que impedem a obtenção de resultados, são "cruéis e injustas", lançou o Presidente Ruto, sublinhando por outro lado os bens de África.
"Queremos defender com as economias desenvolvidas a descarbonização da sua produção, direcionando os seus investimentos industriais para África e usando energia limpa para produzir para todo o mundo", frisou.
África, argumentou o líder queniano, "tem, além das preocupações legítimas de resiliência, emissões em declínio e perdas e danos, um potencial único para desempenhar um papel positivo muito necessário para o futuro".
Para abordar essas questões, como Presidente do grupo de negociadores africanos, Ruto anunciou que tenciona organizar uma "cimeira continental sobre a ação climática" em 2023.
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