Não há ainda nenhuma informação de fonte independente sobre o número de mortos ou autoria do massacre.
O movimento rebelde nega ser o autor do massacre e rejeitou também a responsabilidade da violação, na quinta-feira, de um cessar-fogo entre os seus efetivos e as forças armadas governamentais.
Na terça-feira, enquanto a trégua era mantida com o exército governamental, registaram-se combates na vila de Kishishe, cerca de 70 quilómetros ao norte de Goma, capital da província de Kivu do Norte.
A agência de notícias France-Presse (AFP) recolheu na quarta-feira testemunhos telefónicos sobre um grande número de mortos entre os habitantes de Kishishe, que teriam sido considerados pelos rebeldes como milicianos que os combatiam à paisana.
"Houve represálias indiscriminadas", disse o porta-voz do governo, Patrick Muyaya, depois de o exército emitir um comunicado na quinta-feira em que acusa o M23 de ter "assassinado cobardemente" 50 pessoas.
"Um médico fala mesmo em 120 mortos", acrescentou Muyaya, enfatizando serem poucas as informações provenientes da área, que é controlada pelos rebeldes.
"Foram feitos acordos em particular com a Monusco [a força da ONU na RDCongo] para ir ao local recolher provas", acrescentou.
A Monusco manifestou-se "horrorizada" e condenou o que classificou como "atos terríveis", pedindo "às autoridades competentes que investiguem sem demora" o sucedido, disponibilizando o seu departamento de Direitos Humanos.
Na rede social Twitter, Denis Mukwege, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2018 pelo seu trabalho em favor de mulheres violadas, também disse estar "horrorizado" com relatos de "massacres em massa, pessoas desaparecidas e recrutamento forçado de crianças".
Stephanie Miley, encarregada de negócios dos Estados Unidos, e Jean-Marc Chataigner, embaixador da União Europeia, enfatizaram na quinta-feira, também no Twitter, que essas ações poderiam constituir "crimes de guerra".
"As forças de manutenção da paz da ONU devem ser mobilizadas com urgência (...) para proteger os sobreviventes", disse Thomas Fessy, representante da organização Human Rights Watch na RDCongo, pedindo também "uma investigação independente".
Desde que o M23, uma antiga rebelião tutsi derrotada em 2013 no Ruanda, voltou às armas no final do ano passado, Kinshasa acusa o país vizinho Ruanda de apoiar, armar e mesmo lutar ao seu lado, uma acusação que Kigali rejeita.
O massacre ocorre num momento em que se iniciou em Nairobi a terceira ronda de conversações entre o Governo da RDCongo e quase 60 grupos armados com vista a alcançar a paz no leste do país. A segunda ronda teve lugar em maio, no leste da RDCongo.
O grande ausente das conversações são os rebeldes Movimento 23 de Março (M23), cujos combates contra o exército desde março levaram à deslocação forçada de pelo menos 340.000 pessoas, de acordo com os últimos números da ONU.
O grupo foi excluído do diálogo depois de ter sido acusado pelo executivo de Kinshasa de lançar ataques dias após o início da primeira ronda de conversações em abril.
O leste da RDCongo é palco de confrontos há mais de duas décadas, alimentados por milícias rebeldes e pelo exército, apesar da presença da Monusco.
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