Amnistia alerta para "impacto desproporcionado" da guerra sobre idosos
A Amnistia Internacional (AI) alertou hoje para o "impacto desproporcionado" que o conflito na Ucrânia está a ter sobre os idosos deste país, onde muitos são deixados "para trás" em zonas de combate.
© Lusa
Mundo Guerra na Ucrânia
O relatório 'I used to have a home' ('Eu costumava ter uma casa') hoje divulgado pela AI documenta as dificuldades enfrentadas durante o conflito na Ucrânia pela população idosa, nomeadamente obstáculos no acesso à saúde, habitação e segurança.
"A invasão devastadora da Rússia está a ter um impacto desproporcionado nas pessoas mais velhas na Ucrânia, com muitos a ficarem para trás em áreas em que se encontram regularmente em situação de perigo de implacáveis ataques terrestres e aéreos", disse Laura Mills, investigadora da AI sobre idosos e pessoas com deficiência.
Na Ucrânia, as pessoas com mais de 60 anos constituem quase um quarto da população e este grupo regista maior número de feridos e vítimas mortais no atual conflito.
De acordo com a AI, os idosos permanecem frequentemente em zonas afetadas por conflitos ou não conseguem fugir, em casas danificadas, sujeitas a perigosas condições.
Estas pessoas, com maiores problemas de saúde, enfrentam também severas restrições no acesso a ajuda humanitária nas áreas ocupadas pelas forças russas, adianta a mesma fonte.
Milhares de pessoas idosas deslocadas vivem em instituições estatais sobrelotadas, sem funcionários suficientes para atender às necessidades das pessoas idosas com deficiência.
Só entre fevereiro e julho, pelo menos 4.000 pessoas idosas foram colocadas em instituições estatais após perderem as suas casas, de acordo com o Ministério da Política Social.
A investigação foi conduzida pela AI entre março e outubro, incluindo entrevistas a 226 pessoas e visitas a sete instituições para idosos e pessoas com deficiência na Ucrânia.
"Todos na nossa rua saíram. As únicas pessoas que restavam era eu e duas outras mulheres mais velhas. Uma tinha uma deficiência. Não tínhamos para onde ir. Eu escondia-me num buraco na minha adega. No dia 29 de março, houve muitos bombardeamentos, e quando saí da adega vi as chamas, vi que a minha casa estava a arder", disse uma testemunha à AI.
O governo ucraniano tem feito esforços significativos para retirar pessoas de áreas afetadas pelo conflito, nomeadamente ao anunciar a retirada obrigatória de cerca de 200.000 pessoas da região de Donetsk em julho.
Ainda assim, a AI relembra que os custos e a logística de assegurar o alojamento das pessoas idosas deslocadas pela guerra não devem recair apenas sobre a Ucrânia, por isso apela a outros países para facilitarem a retirada de pessoas idosas, com especial atenção prestada às pessoas idosas com deficiência.
A AI apela ainda a que as organizações internacionais tomem mais medidas para apoiar financeiramente as pessoas idosas, para que estas possam arrendar casas e tenham prioridade na colocação em qualquer alojamento recém-construído.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.702 civis mortos e 10.479 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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