"Reconhece a nossa Academia que só um espírito científico associado a uma grande capacidade de liderança de político-social teria a força e a grandeza para propor tal salto civilizacional, naquela precisa janela temporal para esta parcela minúscula da humanidade", afirmou o reitor da Universidade do Mindelo, Albertino Lopes da Graça.
A cerimónia de hoje, à qual assistiram os chefes de Estado de Cabo Verde e de Portugal, José Maria Neves e Marcelo Rebelo de Sousa, inseriu-se igualmente no 20.º aniversário da Universidade do Mindelo e antecede os 50 anos da morte de Amílcar Cabral (2023) e o centenário do seu nascimento (2024).
Sobre o pensamento que defendeu, de independência das duas colónias, o reitor recordou que "nunca ninguém antes dele tinha ousado propor tal tese": "Apontar o caminho da independência naquela altura era temeridade. Só um espírito amadurecido pela análise histórica, política, económica e social, tanto a nível mundial e regional, e absolutamente convencido do poder transformador do homem sobre as adversidades podia ousar propor tal solução".
A Universidade do Mindelo, ilha cabo-verdiana de São Vicente, atribuiu hoje o grau de Doutor Honoris Causa a Amílcar Cabral, líder histórico da luta pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau, cerimónia que reuniu ainda antigos combatentes cabo-verdianos e intervenções do presidente da Fundação Amílcar Cabral, o ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires, e a filha do líder histórico, Iva Cabral.
"Na nossa tradição de outorga do título de Doutor Honoris Causa, normalmente distinguimos uma personalidade contemporânea. Este ano, excecionalmente, o conselho científico da Universidade do Mindelo decidiu a outorga dessa distinção académica, a título póstumo, ao engenheiro Amílcar Lopes Cabral. Foi uma personalidade de múltiplas facetas, um pensador internacionalmente reconhecido e bastante estudado por muitos analistas políticos e sociais, uma figura distinguida por vários países, várias universidades e várias instituições internacionais", justificou ainda o reitor.
"No nosso país, o engenheiro Amílcar Lopes Cabral também teve muitas distinções, mas esta é a primeira vez que a Academia, através da Universidade do Mindelo, lhe outorga uma distinção nesta cidade do Mindelo, em que ele viveu parte da sua juventude e onde concluiu os estudos liceais", enfatizou.
Fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Amílcar Cabral nasceu em 12 de setembro de 1924 e foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri, aos 49 anos.
"Com este nosso singelo testemunho, pretendemos em breves traços reconhecer e evocar a sua faceta científica de pensador e pedagogo, na abordagem de questões políticas e sociais no quadro da sua participação no processo histórico pela emancipação dos povos oprimidos e em especial pela afirmação e reconhecimento das nações cabo-verdiana e guineense (...) Amílcar Lopes Cabral foi, ao mesmo tempo, um intelectual e um estratega operacional, sintetizando sempre que era preciso: Pensar para melhor agir e agir para melhor pensar. Isso é o que fazem os cientistas sociais", concluiu o reitor.
Filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora, o líder histórico nasceu na Guiné-Bissau e partiu com oito anos, acompanhando a sua família, para Cabo Verde, onde viveu parte da infância e adolescência, antes de se licenciar em Agronomia, em Portugal, em 1950.
O ideólogo das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, Amílcar Cabral, foi considerado em 2020 o segundo maior líder mundial de todos os tempos, numa lista elaborada por historiadores para a BBC e com a votação dos leitores.
A lista é da "BBC World Histories Magazine" e foi feita por historiadores, que nomearam aquele que consideraram o maior líder, alguém que exerceu poder e teve um impacto positivo na humanidade.
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