"Soube que o meu tio foi assassinado pelo Exército eritreu. Falei com a minha mãe e ela estava verdadeiramente arraçada, porque ele era o caçula da família e tinha quase a mesma idade que eu", adiantou Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Ele não estava sozinho na aldeia, quando o mataram na sua casa. Mais de cinquenta pessoas da mesma aldeia foram mortas. Arbitrariamente", denunciou ainda.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, de 57 anos, manifestou ainda esperança em que o acordo de paz se mantenha e a violência acabe.
O Tigray esteve praticamente isolado do mundo mais de um ano e está privado de eletricidade, telecomunicações, serviços bancários e combustível.
A guerra começou em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Ahmed Abiy, ordenou uma ofensiva contra a então governante Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), em resposta a um ataque a uma base militar federal e a uma escalada das tensões políticas, incluindo a recusa da TPLF em reconhecer o adiamento das eleições e a sua decisão de realizar eleições regionais fora de Adis Abeba.
A TPLF acusa Ahmed de alimentar tensões desde que chegou ao poder em abril de 2018, quando se tornou o primeiro oromo a tomar posse.
Até então, a TPLF tinha sido a força dominante no seio da coligação governante da Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária Popular Etíope, de base étnica.
O grupo opôs-se às reformas de Abiy Ahmed, que considerou como uma tentativa de minar a sua influência.
O governo etíope e os rebeldes de Tigray assinaram um acordo em 02 de novembro em Pretória que previa, em particular, a cessação das hostilidades, a retirada e desarmamento das forças de Tigray, a restauração da autoridade federal em Tigray e a reabertura do acesso a esta região, que enfrenta uma situação humanitária catastrófica.
No entanto, este acordo não menciona a presença em Tigray do Exército eritreu, que prestou assistência decisiva às tropas etíopes, nem da sua possível retirada.
Os resultados deste conflito são desconhecidos, com o 'think tank' International Crisis Group e a organização não-governamental (ONG) Amnistia Internacional a descrevem-no como "um dos mais mortíferos do mundo".
Tedros Adhanom Ghebreyesus, que chefiou o gabinete regional de saúde em Tigray antes de se tornar ministro da Saúde da Etiópia (2005-2012), apelou repetidamente à paz e ao acesso humanitário desimpedido àquela região.
Em conferência de imprensa em 02 de dezembro, o responsável da ONG expressou preocupação com as áreas ainda sob controlo das tropas eritreias.
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