Oposição turca promete "acabar com tirania" após condenação de autarca
Milhares de pessoas concentraram-se hoje frente à câmara municipal de Istambul para denunciar uma decisão judicial que pode afastar de funções o seu presidente, um líder da oposição, e impedi-lo de concorrer às eleições de 2023.
© Reuters
Mundo Turquia
O protesto, pelo segundo dia consecutivo, juntou os principais líderes da oposição da Turquia, que prometeram "acabar com a tirania" e formar uma coligação a nível nacional para afastar do poder do Presidente Recep Tayyip Erdogan, após a condenação a dois anos e sete meses de prisão emitida na quarta-feira por um tribunal contra Ekrem Imamoglu por insulto a membros do Conselho Superior Eleitoral (YSK) do país.
A oposição comprometeu-se a pôr termo ao seu "regime repressivo" na perspetiva das eleições legislativas e presidenciais previstas para junho de 2023, enquanto o próprio Ekrem Imamoglu apelou na sua intervenção ao "desmantelamento do regime" e "mesmo que a repressão seja muito dura".
A condenação de que foi alvo, que terá de ser ainda analisada por um tribunal superior de recurso, também inclui uma inabilitação para exercer o cargo, e que poderá implicar a sua saída da autarquia.
"Não temos medo. Tenho o apoio de 16 milhões de istambulenses", assegurou Imamoglu no decurso do protesto, também uma manifestação de unidade por parte do bloco opositor, antes de acrescentar que a Turquia "se encontra numa encruzilhada".
"A oposição pode substituir Erdogan através do senso comum e da ideia de um futuro em comum", prosseguiu Imamoglu perante os milhares de apoiantes, que ecoavam palavras de ordem como "direito, lei e justiça", indicou a agência noticiosa Efe.
Um dos dirigentes do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e nacionalista), Imamoglu já anunciou que vai recorrer da sentença.
Na quarta-feira, os juízes consideraram que o responsável pela maior cidade da Turquia insultou altos responsáveis ao considerar, em 2019, que "os que anularam as eleições de março são estúpidos", numa referência ao seu primeiro triunfo eleitoral nesse ano para a câmara de Istambul, impugnado pelo Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, no poder e liderado por Erdogan) devido à escassa margem obtida pelo opositor.
O resultado seria anulado por decisão da Comissão eleitoral, mas as eleições seriam repetidas em junho desse mesmo ano e Ekrem Imamoglu conseguiu então garantir uma vantagem muito mais considerável face ao candidato do AKP, que após um longo predomínio acabou por perder a câmara de Istambul.
Apesar de este caso ainda necessitar de análise pelo tribunal de recurso, diversos observadores indicavam não ser seguro que o Governo permita a sua permanência no cargo até uma sentença definitiva.
Nos casos de condenações similares de responsáveis municipais eleitos pelo Partido Democrático dos Povos (HDP, esquerda) nas regiões curdas do sudeste do país, o Ministério do Interior tem habitualmente nomeado, de forma imediata, um administrador para assumir as funções do presidente de câmara proscrito.
A defesa de Imamoglu sublinha que a frase do responsável máximo da câmara de Istambul não era dirigida à Comissão Eleitoral, mas antes uma resposta direta ao ministro do Interior, Suleyman Soylu, que no mesmo dia tinha rotulado de "estúpidos" aqueles que "vão ao Parlamento Europeu queixar-se da Turquia", numa referência ao autarca.
A ONG Human Rights Watch (HRW) condenou o veredicto e alertou tratar-se de um "assalto politicamente calculado" cujo objetivo consiste em "afastar e silenciar as principais figuras da oposição".
A União Europeia e os Estados Unidos também criticaram o veredicto.
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