"É tão surreal [o pedido] como seria se o Kosovo pedisse à NATO para enviar tropas albanesas para o sul da Sérvia para proteger os albaneses étnicos", destacou hoje Edi Rama, durante uma reunião com embaixadores de países estrangeiros na capital Tirana.
O pedido da Sérvia para enviar cerca de 1.000 soldados e polícias sérvios para o Kosovo foi "categoricamente" rejeitado esta semana também pelos Estados Unidos.
O chefe do governo albanês destacou que este final de ano não é bom para o processo de normalização das relações entre Pristina e Belgrado e que o aumento das tensões no norte do Kosovo "não só não ajuda, como é profundamente preocupante".
Kosovo entrou na terceira década desde que "se libertou de uma vez por todas" da Sérvia e "nunca estará sob a lei de Belgrado", sublinhou Rama.
A União Europeia (UE) pediu a ambos os lados que reduzam a escalada e levantem os bloqueios de estradas no norte do Kosovo pelos sérvios kosovares, que estão a protestar contra o que consideram ser uma crescente discriminação contra eles por Pristina.
Atualmente, o que é necessário é apenas o diálogo, enquanto o resto é "má política", enfatizou Rama.
O alto representante da União Europeia (UE) para a Política Exterior e Segurança Comum, Josep Borrell, exortou hoje a Sérvia e o Kosovo a retomarem o diálogo para normalizar as suas relações, por considerar que esta é "a única forma" de concretizarem a perspetiva de adesão ao organismo comunitário.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
O primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, entregou hoje o pedido formal de adesão à UE no decurso de uma visita simbólica à República Checa, que exerce a presidência semestral rotativa do bloco comunitário até 31 de dezembro.
Kurti insistiu que a iniciativa constitui um feito "histórico" para a antiga província sérvia e disse que espera receber "quanto antes" o questionário que Pristina deverá preencher para o prosseguimento deste complexo processo, indicou a agência noticiosa Kosova Press, ao relatar a visita.
Geralmente, este processo prolonga-se por meses no Conselho Europeu, e neste caso poderá revelar-se mais complexo devido ao ainda indefinido estatuto internacional do Kosovo.
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