"A imprensa no Burkina Faso está a atravessar tempos difíceis devido ao desejo das autoridades de controlar a informação", escrevem os responsáveis ?de uma dezena de organizações profissionais de 'media', citados pela agência France-Presse.
Para os profissionais, a decisão de suspensão da RFI põem em causa a liberdade de imprensa.
"Assistimos a um questionamento do livre exercício dos profissionais da comunicação social, com ameaças diárias de sanções por parte das autoridades e terror exercido sobre os jornalistas por grupos instrumentalizados da população", acrescentaram.
"Dizer a verdade ou mesmo relatar os factos, valor sagrado da nossa profissão, tornou-se um crime que pode levar à suspensão dos 'media', sem qualquer outra forma de julgamento, ou a que seja colocado um preço na cabeça de um jornalista", denunciaram.
As autoridades militares do Burkina Faso ordenaram a "suspensão imediata até nova ordem" da emissão da RFI em 03 de dezembro, acusando a estação de ter transmitido uma "mensagem intimidante" atribuída a um "líder terrorista".
"A suspensão da RFI é lamentável. É contrário aos princípios da nossa profissão, o jornalismo, e é uma decisão altamente política", lê-se na declaração.
As organizações profissionais de 'media' esperam que o Governo "não se deixe arrastar para uma espiral em que será forçado a fechar os meios de comunicação por motivos políticos".
A declaração condenou também os comentários violentos feitos em redes sociais, incluindo "ameaças de morte" contra dois jornalistas, Lamine Traoré, do grupo de 'media' Ómega e o antigo editor de L'Evénement, Newton Ahmed Barry.
Expressando o seu "apoio inabalável" aos colegas ameaçados, as organizações profissionais de 'media' lamentam que os responsáveis pelas ameaças "continuem a gabar-se disso nas redes sociais e não pareçam incomodados de todo", apesar do empenho do Governo em persegui-los.
"Face à situação de segurança extremamente difícil, as autoridades de transição não devem confundir o inimigo e reduzir a imprensa a bode expiatório", concluem no texto.
Burkina Faso, palco de dois golpes militares em oito meses e flagelado pelo terrorismo desde 2015, é o segundo país da região a proibir a RFI este ano depois do Mali, que também é governado por golpistas militares e está também a braços com uma grave crise de segurança.
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