"Causa vergonha e indignação saber que a insegurança, a violência e a guerra que golpearam tragicamente tanta gente, são alimentadas não apenas por forças externas, mas também internas, por interesses e ganância de obter ganhos", disse o chefe da igreja católica no segundo dia da visita à RDCongo, um país afligido por conflitos internos há décadas.
Durante a sua intervenção num encontro com as vítimas da violência, organizado pela igreja católica local, o Papa Francisco defendeu ainda que todas as mulheres devem ser "respeitadas, protegidas e valorizadas" em todo o mundo, mas particularmente no leste deste país, onde mais de 100 milícias combatem entre si e contra as forças armadas, pelo controlo das minas de cobalto, o que nos últimos meses originou um avolumar da violência e das vítimas.
Gritando "vergonha" face aos confrontos que têm assolado o país, o líder católico disse que "Deus é o Deus da paz e não da guerra", defendendo que os habitantes devem resistir à sedução de pegar nas armas.
Na visita à RDCongo, o papa Francisco já manteve um encontro com o Presidente local, Felix Tshisekedi, e tinha prevista uma deslocação a Goma, no leste do país, mas a viagem foi cancelada por razões de segurança, nota a agência de notícias EFE.
Ao invés, muitas das vítimas que iam receber o papa acabaram por deslocar-se a Kinshasa, levando consigo os machetes e outros instrumentos de guerra com que os guerrilheiros mataram os seus familiares.
Mais de um milhão de pessoas assistiram esta manhã à missa do Papa Francisco na esplanada do aeroporto de Ndolo, em Kinshasa, RDCongo, segundo as autoridades locais.
O Papa Francisco chegou na terça-feira a Kinshasa, na primeira etapa de uma viagem de sete dias que o levará também ao Sudão do Sul.
A 40ª viagem internacional de Francisco, de 86 anos, esteve agendada para julho do ano passado, mas uma dor no joelho provocou o seu adiamento e, desde então, a situação de segurança na região tornou-se mais complicada em ambos os países.
Nos últimos meses, o leste da RDCongo tem sido palco de um recrudescimento da violência, sobretudo na fronteira com o Ruanda, uma zona com subsolo rico em cobalto, fundamental para a indústria de equipamentos eletrónicos, e onde existem mais de 100 grupos armados ativos, nomeadamente o Movimento 23 de Março (M23), razão pela qual a visita a Goma, planeada no programa inicial, foi suspensa.
Já o Sudão do Sul, o mais jovem país do mundo, independente do Sudão desde 2011, nunca foi visitado por um pontífice.
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