Sindicatos camponeses, organizações civis e movimentos estudantis das regiões andinas de Cusco e Puno, no sul do país, bem como residentes da capital Lima, concentraram-se na praça Dois de Maio para exigir, mais uma vez, a demissão de Boluarte, a dissolução do parlamento e a antecipação das eleições.
Ao cair da noite, a polícia utilizou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes, enquanto estes marchavam em direção ao parlamento e ao palácio do governo. Os manifestantes, armados com capacetes e escudos caseiros, confrontaram-se com a polícia, disparando fogo de artifício e outros dispositivos.
"Hoje, todas as comunidades estão na rua", disse um representante estudantil, enquanto o descontentamento do campo andino, sobrecarregado pela pobreza apesar dos ricos recursos naturais, se fazia ouvir.
"Não desistiremos desta luta, aqueles que têm de desistir são a usurpadora [Boluarte] e o parlamento, que estão a fazer tudo para evitar melhorar a nossa situação. Tudo o que fazem é roubar-nos e dar a nossa riqueza a empresas que não são peruanas", disse Romina Cuno, uma camponesa de 37 anos de Puno, à agência de notícias France-Presse.
Manifestantes de zonas remotas do Peru juntaram-se ao protesto, bem como residentes de bairros pobres do norte de Lima, a cantar "sí se puede" ("sim, podemos"), enquanto agitavam bandeiras peruanas.
Ao mesmo tempo, outra manifestação decorreu nas ruas do centro de Lima, com cerca de 50 pessoas a identificarem-se como a "Legião Patriótica", alegando defender a polícia peruana "pelas acções contra os terroristas subversivos".
Entretanto, as autoridades peruanas registaram, no sábado, mais de 70 pontos "em que o trânsito foi interrompido" em seis regiões do país, sobretudo no sul do país, devido aos protestos antigovernamentais, nos quais já morreram 69 pessoas, desde dezembro passado.
A manifestação ocorreu um dia depois de o parlamento peruano ter decidido bloquear até agosto qualquer debate sobre a antecipação das eleições presidenciais e legislativas para outubro de 2023.
A proposta de antecipar o escrutínio, apresentada pela Presidente Boluarte, foi rejeitada pela quarta vez pelo órgão legislativo.
Os protestos antigovernamentais começaram na sequência do afastamento e detenção, em 07 de dezembro, do Presidente socialista Pedro Castillo, acusado de tentar um golpe de Estado ao dissolver o parlamento, que se prepara para depor o chefe de Estado.
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