"Chegou a hora de vocês demonstrarem a vossa própria iniciativa", afirmou, numa intervenção em direto, ao início da noite, a partir da sua conta oficial na rede social Facebook, aludindo às cerimónias de posse agendadas para segunda-feira, dos 250 deputados, e para quarta-feira, do Presidente da República, Daniel Chapo.
"Estes três dias são cruciais para a nossa vida. Temos de demonstrar que o povo é que manda. Manifestações pacíficas. Das 08:00 às 17:00 [menos duas horas em Lisboa] é suficiente, contra os traidores do povo na segunda-feira e contra os ladrões do povo na quarta-feira", afirmou.
Venâncio Mondlane regressou a Moçambique na quinta-feira, após dois meses e meio no exterior, alegando questões de segurança, e insiste em não reconhecer os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, em que a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975) elegeu o seu candidato a Presidente da República, Daniel Chapo, manteve a maioria dos deputados na Assembleia da República e garantiu todos os governadores de província.
Na mesma intervenção, Mondlane insistiu no que apelida de reposição da verdade eleitoral e num apelo a "manifestações pacíficas", sem violência, saques ou destruição de bens, desafiando a população a usar na rua a imagem "do candidato em quem votou".
"Temos de dar um sinal de que o povo é que manda e o povo é que está no poder", afirmou, criticando os partidos cujos deputados vão tomar posse na segunda-feira, (10:00 locais) em Maputo, em que se incluiu o Podemos, que apoiou a sua candidatura presidencial e que de extraparlamentar passou a maior partido da oposição nestas eleições.
"Partidos que tiveram os votos negociados, os votos arranjados", acusou, afirmando que se se fez um "leilão com a vontade do povo".
"Não vejo partidos políticos preocupados com as mortes (...) A verdade eleitoral já todos esqueceram", disse ainda.
Desde 21 de outubro, as manifestações pós-eleitorais em Moçambique, que degeneraram em confrontos com a polícia, saques e destruição de empresas e instituições públicas, como tribunais e esquadras policiais, já provocaram praticamente 300 mortos e mais de 600 pessoas foram baleadas.
Na quinta-feira, pouco depois do regresso de Venâncio Mondlane a Maputo, a polícia dispersou milhares de pessoas que ouviam o candidato num bairro da capital com recurso a disparos e gás lacrimogéneo, com registo de três mortos.
Na intervenção de hoje, Venâncio Mondlane denunciou que uma equipa, incluindo pessoal do carro de som, que ao início da tarde preparava a sua chegada ao mercado de Xipamanine, em Maputo, para contacto com os vendedores locais, foi alvo de disparos por elementos "à civil com armas de fogo".
"Justificação nenhuma, mandado judicial nenhum, algum fundamento legal nenhum. Aqui neste país estamos a matar pessoas a torto e a direito", acusou, apresentando alegadas cápsulas de munições disparadas, não sendo conhecidos vítimas ou feridos desta ação.
"Não é somente o roubo de votos que aconteceu. É um problema de direitos humanos", criticou Venâncio Mondlane.
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