O jesuíta, que acompanhou o trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, e que na segunda-feira assistiu à apresentação do relatório daquele grupo de trabalho, disse, citado pela agência Ecclesia, que a divulgação do documento foi um momento "triste", mas também de "esperança".
Hans Zollner considerou que este é o momento de reconhecer que "as vítimas que estiveram caladas ou foram silenciadas foram ouvidas" e que, "agora, a Igreja em Portugal e a sociedade sabem desta realidade, que é muito obscura e dolorosa, para as vítimas, as suas famílias, os seus amigos".
Por outro lado, admitiu que se vive um momento "importante" para os católicos em Portugal e no mundo, porque permite reconhecer que "muitas pessoas foram feridas por membros da Igreja", advogando que o futuro passa por assumir o compromisso de proteger as vítimas.
"A partir de agora, a Igreja pode, com muito mais energia e liberdade, aceitar o que aconteceu no passado e, esperemos, reconhecer a dor dos que foram feridos", acrescentou, citado pela Ecclesia.
Para Hans Zollner, é imperiosa uma resposta "estruturada" às vítimas, defendendo, nomeadamente, a criação de "centros de escuta", aos quais os abusados podem recorrer para dar conta dos seus casos.
"A Igreja pode fazer muito [no apoio às vítimas], mas também penso que é preciso levar em conta a realidade da sociedade como um todo", afirmou o padre Hans Zollner, para quem também a sociedade tem de olhar para o que a Igreja está a fazer, "porque há muitas outras instituições que precisam de enfrentar esta realidade e que devem ser colocadas neste quadro".
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal iniciou a recolha de testemunhos de vítimas em 11 de janeiro de 2022, tendo validado 512 denúncias das 564 recebidas, o que permitiu a extrapolação para a existência de um número mínimo de 4.815 vítimas nos últimos 72 anos.
A Conferência Episcopal Portuguesa vai tomar posição sobre o relatório, de quase 500 páginas, numa Assembleia Plenária agendada para 3 de março, em Fátima.
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