A poucos dias de se completar um ano desde a invasão russa da Ucrânia (a 24 de fevereiro de 2022), a grande questão em debate deverá ser os apoios militares e logísticos dos países ocidentais e da Aliança Atlântica a Kiev.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, defenderá já no primeiro dia da conferência a criação de "meios para garantir a derrota da Rússia", segundo avançaram fontes do Eliseu (Presidência), acrescentando que o líder pretende também procurar "mecanismos para garantir a estabilidade da Europa", de forma a evitar novos conflitos.
O apoio à Ucrânia será também a posição a apresentar pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que estará acompanhado pela vice-Presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, sendo que os dois pretendem ter, à margem da conferência, várias reuniões com representantes dos Governos de França, Alemanha, Reino Unido, Finlândia e Suécia.
Os participantes na conferência irão também debruçar-se sobre a capacidade da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de manter a solidariedade da Aliança a longo prazo e na crescente divisão entre o Ocidente e o Leste.
Apesar da unidade criada pelas atuais circunstâncias, muitos Estados do Leste europeu, que fazem fronteira com a Rússia, sentem que os países ocidentais estão a agir de forma hesitante.
A discussão também deverá centrar-se no alargamento da NATO para incluir a Suécia e a Finlândia, que está sujeita ao acordo da Turquia e provavelmente permanecerá paralisada até as eleições presidenciais do país, previstas para este ano.
O pedido de adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica será também discutido, mas não se espera que leve a qualquer decisão a curto prazo, podendo, no entanto, passar por uma integração operacional a partir da cimeira da NATO marcada para julho em Vilnius.
Como não podia deixar de ser num fórum deste tipo, os gastos com a Defesa estarão sempre em foco.
A Alemanha e a França anunciaram financiamentos de milhões de euros para apoiar e desenvolver os seus exércitos, face ao novo contexto geopolítico, levantando questões cruciais para as empresas do setor que passam quer pela captação desses investimentos, quer pelas regras impostas.
A Conferência de Munique também terá de discutir a relação da Europa com a China em áreas tão variadas como tecnologia, comércio, energia e preparação para eventuais futuras pandemias.
O diretor do Gabinete da Comissão de Negócios Estrangeiros do Partido Comunista da China, Wang Yi, considerado como o arquiteto da política externa do país, também estará em Munique, onde fará um discurso para "deixar claro o compromisso da China para com o desenvolvimento pacífico" e "partilhar a posição da China em questões de interesse internacional".
Desde o início do conflito na Ucrânia, a China manteve uma posição ambígua na qual apelou ao respeito pela "integridade territorial de todos os países", incluindo a Ucrânia, e pediu atenção às "preocupações legítimas de todos os países", numa referência à Rússia.
Em fevereiro de 2022, pouco antes do início da invasão russa da Ucrânia, os Presidentes russo e chinês, Vladimir Putin e Xi Jinping, respetivamente, proclamaram "amizade ilimitada" entre os países.
A energia será, provavelmente, outro dos tópicos em debate em Munique, já que os acordos para adotar uma energia verde continuam a ser comprometidos pela atual crise de segurança energética.
O encontro deverá ainda dedicar algum tempo aos temas de tecnologia e de segurança cibernética, especialmente entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos.
A conferência, que se realiza todos anos desde 1963, é dominada pela presença de países da NATO e funciona como um termómetro dos debates de segurança da Europa, ajudando a identificar tendências futuras.
É também neste fórum que líderes de países que não integram a Aliança Atlântica aproveitam para passar mensagens, como fez o Presidente russo, Vladimir Putin, em 2007, quando, pela primeira vez, acusou publicamente os Estados Unidos de apoiarem uma expansão irracional da NATO para o Leste.
A ofensiva militar russa no território ucraniano mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
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