"Avisámos, de facto, os russos de que o Presidente Biden ia deslocar-se a Kyiv. Fizemo-lo algumas horas antes da sua partida", declarou Jake Sullivan.
O conselheiro da Casa Branca, que também foi a Kyiv, indicou que "devido à natureza sensível dessas comunicações", não queria "entrar em pormenores sobre a forma exata como eles responderam ou sobre a natureza precisa da mensagem" norte-americana enviada.
O Presidente dos Estados Unidos chegou hoje de manhã a Kyiv para uma visita excecional à Ucrânia -- a primeira desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro de 2022.
A deslocação foi decidida na sexta-feira, após uma reunião de Biden com o seu principal grupo de especialistas de segurança, e organizada com o maior secretismo, tendo o Presidente partido de uma base aérea perto de Washington no domingo ao início da manhã.
Segundo noticiou a estação televisiva norte-americana CNN, a decisão de sexta-feira pôs um ponto final a vários meses de trabalho no âmbito do Departamento de Segurança Nacional, juntamente com membros do Gabinete Militar da Casa Branca e vários altos responsáveis dos Serviços Secretos do Pentágono.
Esta equipa de trabalho informou constantemente o Presidente Biden sobre avaliações de possíveis ameaças enquanto decorria a visita, inclusive em território ucraniano, onde apenas esteve seis horas, antes de embarcar novamente no seu avião com destino à Polónia.
A diretora de comunicações da Casa Branca, Kate Bedingfield, declarou, na altura, que não podia divulgar como o Presidente norte-americano se havia deslocado à capital ucraniana enquanto "a viagem não estivesse completamente concluída", afirmando apenas que para Biden "é importante aparecer, mesmo quando é difícil".
Segundo Jake Sullivan, a visita "exigiu medidas logísticas e operacionais de segurança adicionais", ao nível dos padrões dos Estados Unidos, para "levar a cabo uma operação inerentemente arriscada de modo a que o risco fosse controlável".
"É claro que o risco continuava a existir (...) numa iniciativa como esta, mas o Presidente Biden considerou que era importante realizar esta viagem", sublinhou o conselheiro.
Apenas dois jornalistas foram autorizados a acompanhar o chefe de Estado norte-americano.
Esta visita de Biden a Kyiv -- a primeira de um Presidente dos Estados Unidos à Ucrânia desde 2008 -- seguiu-se às de diversos líderes europeus à capital ucraniana e à do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Washington, em dezembro passado.
Ali, Biden anunciou mais 500 milhões de dólares (cerca de 468 milhões de euros) de ajuda à Ucrânia, um novo pacote em que estão incluídas armas de longo alcance e ainda outro tipo de armamento que "não foi anteriormente fornecido", e referiu ainda futuras novas sanções contra elites e empresas russas que ajudam "a máquina de guerra da Rússia".
Até à data, os Estados Unidos enviaram ajuda militar e financeira à Ucrânia no valor de mais de 30 mil milhões de dólares (cerca de 27 mil milhões de euros), ao mesmo tempo que pressionaram os seus parceiros da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental) para intensificarem o envio de armamento, incluindo os tão ansiados tanques Leopard 2.
A ofensiva militar lançada há quase um ano pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 362.º dia, 7.199 civis mortos e 11.756 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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