A patrulha da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex), que seguia num avião, enviou a mensagem ao ponto de contacto nacional das forças de segurança italianas e ao Centro de Operações da Guarda Costeira, sobre uma embarcação que "navegava sem problemas, a seis nós [de velocidade], com boa flutuabilidade e uma única pessoa visível no convés".
A Guarda Costeira italiana informou que, após ser alertada, comunicou com um outro navio que se encontrava nas imediações do ponto referenciado pela patrulha da Frontex para proceder à "interceção da embarcação".
No entanto, várias horas se passaram sem que o barco fosse detetado, segundo o relato divulgado pelas autoridades italianas.
Segundo o mesmo relato, a partir das 04:30 locais (03:30 em Lisboa), as autoridades costeiras italianas começaram a receber chamadas telefónicas de "pessoas em terra" que "alertaram para a existência de um barco em perigo a poucos metros da costa", dando-se, então, início ao processo de coordenação entre as diferentes forças de segurança.
"Esta é a primeira informação de emergência recebida pela Guarda Costeira em relação à embarcação avistada pelo avião da Frontex", explicou o órgão de segurança, que aproveitou para esclarecer que nenhuma das chamadas partiu do navio em perigo.
Em seguida, os 'Carabinieri' (polícia militar italiana), previamente alertados pela Guarda Costeira, chegaram à área e reportaram, então, o naufrágio.
A partir desse momento, os diferentes órgãos de segurança ativaram o dispositivo de emergência sob a coordenação da Guarda Costeira da Região da Calábria "com o envio de meios navais e aéreos, homens e meios terrestres para a área indicada".
Mas os esforços foram inúteis, pois o barco ficou destruído após colidir com rochas na costa de Steccato di Cutro.
Até agora, foram resgatados 82 sobreviventes e localizados 64 cadáveres, embora a Organização Internacional para as Migrações (OIM) tenha indicado à agência noticiosa espanhola EFE que o número de mortos poderá ultrapassar a centena.
A embarcação, que partira quatro dias antes da costa da Turquia, transportava cerca de 200 migrantes procedentes do Iraque, Irão, Afeganistão e Síria.
Em relação à atuação dos serviços de emergência italianos, o ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, afirmou que o Senado "não tem motivos para crer que tenham existido erros ou omissões, ou mesmo que a situação tenha sido subestimada", embora tenha prometido uma investigação ao incidente.
Piantedosi acrescentou, por outro lado, que o Governo italiano está a ponderar criar mais centros de repatriamento de migrantes.
"Criar centros de detenção para repatriamentos é muito dispendioso, mas consideramos que está na ordem do dia", disse o governante italiano numa audição perante a Comissão para os Assuntos Constitucionais sobre as linhas programáticas do ministério.
"O discurso das expulsões é o encerramento do círculo para os fluxos migratórios irregulares. Neste sentido, não temos apenas em vista a logística de apoio, mas também os contactos com os países de origem destes fluxos", concluiu.
Pelo menos quatro pessoas foram detidas por alegada responsabilidade no tráfico destes migrantes.
As rotas do Mediterrâneo central provocaram desde 2014 mais de 20.500 mortes, entre as quais 284 desde o passado mês de janeiro, de acordo com os dados da Organização Internacional para as Migrações.
Na segunda-feira, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) classificou as declarações da primeira-ministra Giorgia Meloni e de Piantedosi como uma "chapada na cara" dos migrantes, ao insinuarem que estes foram responsáveis pela própria tragédia, por embarcarem numa viagem tão perigosa.
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