Na zona do Bairro Luís Cabral, grupos de jovens começaram a incendiar pneus cerca das 09h00 locais (menos duas horas em Lisboa), cortando a N4, que liga a Matola à entrada de Maputo, levando a polícia a fazer vários disparos na tentativa de os desmobilizar.
À passagem da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), os manifestantes respondiam com arremesso de pedras e garrafas, enquanto a polícia tentativa retirar alguns dos pneus em chamas, ao mesmo tempo que grupos carregavam outros para a via, já bloqueada também com pedras, à semelhança do que tem acontecido nos protestos pós-eleitorais que se verificam desde 21 de outubro no país.
"Só o Venâncio é capaz de parar isto", gritava um dos manifestantes, enquanto a polícia realizava novos disparos.
Em simultâneo, noutro ponto da cidade, já a comitiva transportava o novo Presidente, Daniel Chapo, para a cerimónia de posse, na Praça da Independência, centro de Maputo.
Um forte aparato policial e militar é visível hoje no centro da capital, antes da investidura de Daniel Chapo.
Várias artérias próximas ao local da investidura encontram-se encerradas ao trânsito por militares desde as primeiras horas da manhã, que controlam os acessos ao perímetro, juntamente com a polícia.
Também há unidades da Unidade de Intervenção Rápida da polícia posicionadas por toda a cidade, que se encontra praticamente deserta, em dia de tolerância de ponto devido à cerimónia de investidura.
Daniel Chapo é investido hoje, em Maputo, como quinto Presidente da República de Moçambique, o primeiro nascido já depois da independência do país, numa cerimónia com cerca de 2.500 convidados e a presença de dois chefes de Estado, Cyril Ramaphosa, da África do Sul, e Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau.
Portugal estará representado na cerimónia pelo chefe da diplomacia, Paulo Rangel.
Atual secretário-geral da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Daniel Chapo era governador da província de Inhambane quando, em maio de 2024, foi escolhido pelo Comité Central para ser candidato do partido no poder à sucessão de Filipe Nyusi, que cumpriu dois mandatos como Presidente da República.
Em 23 de dezembro, Daniel Chapo, 48 anos, foi proclamado pelo Conselho Constitucional como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, nas eleições gerais de 09 de outubro, que incluíram legislativas e para assembleias provinciais, que a Frelimo também venceu.
Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, em 2000, Daniel Francisco Chapo nasceu em Inhaminga, província de Sofala, centro de Moçambique, em 06 de janeiro de 1977, sendo por isso o primeiro Presidente da República nascido já depois da independência do país (1975).
Em entrevista exclusiva à Lusa em 04 de outubro, Daniel Chapo afirmou que nunca tinha equacionado concorrer à Presidência, mas que recebeu essa "missão" para "servir o povo".
A cerimónia de investidura vai decorrer na Praça da Independência, no centro de Maputo, e arranca, segundo o programa oficial, às 08:00 locais (menos duas horas em Lisboa), com atividades culturais, prolongando-se até às 12:20.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais, convocou três dias de paralisação e manifestações, desde segunda-feira, contestando a tomada de posse dos deputados eleitos à Assembleia da República e a investidura do novo Presidente da República, hoje.
A eleição de Daniel Chapo tem sido contestada nas ruas desde outubro, com manifestantes pró-Mondlane - que segundo o CC obteve apenas 24% dos votos mas que reclama vitória - a exigirem a "reposição da verdade eleitoral", com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que já provocaram 300 mortos e mais de 600 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
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