Timor-Leste manterá relações com todos, apesar do projeto de submarinos

O Presidente da República timorense escusou-se hoje a avaliar a decisão da Austrália de adquirir submarinos de propulsão nuclear, reafirmando que Timor-Leste continuará a dar prioridade às boas relações com um amplo leque de países.

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Lusa
19/03/2023 12:58 ‧ 19/03/2023 por Lusa

Mundo

Austrália

"Isto não muda nada. Timor vai continuar a fazer tudo o que podermos para continuar a dar-nos bem com os nossos vizinhos", disse José Ramos-Horta em declarações à Lusa.

"Com a Austrália em primeiro plano, com a Indonésia, com a adesão à ASEAN a ser prioridade máxima e nas relações com países fora da ASEAN, China, Coreia do Sul e Japão. Fora da nossa região, a UE continua a ser muito importante, e dentro da UE, Portugal, Irlanda, França, Alemanha", frisou.

Ramos-Horta comentou assim o anúncio de que a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos vão cooperar na produção de uma nova geração de submarinos, o SSN-AUKUS, e de que a marinha australiana será equipada com três submarinos nucleares de fabrico norte-americano.

Diplomatas dos três países informaram na passada quinta-feira o Presidente de Timor-Leste sobre o acordo anunciado.

"Estivemos com o senhor Presidente para o informar do anúncio feito esta semana pelo Presidente dos Estados Unidos, e pelos primeiros-ministros do Reino Unido e da Austrália relativamente à nossa futura cooperação no desenvolvimento das capacidades da Austrália operar submarinos de armamento convencional mas de propulsão nuclear", disse Bill Costello, embaixador da Austrália em Díli.

Costello e o encarregado de negócios da embaixada dos EUA em Díli reuniram-se hoje com o chefe de Estado timorense, José Ramos-Horta, para dar conta do acordo.

Questionado sobre o acordo, Ramos-Horta escusou-se a fazer qualquer avaliação, notando, porém, que é legitimo que qualquer país possa tomar as decisões que considere adequadas.

"A China nos últimos 30 anos, se não mais, tem modernizado as suas forças convencionais, estratégias de longo alcance, com submarinos, porta-aviões, com mísseis intercontinentais. É obvio que outros países não iriam ficar indiferentes", afirmou.

"Eu não me pronuncio sobre o que é o direito dos EUA, da Austrália e do Reino Unido de pensarem na sua defesa a curto, médio e longo prazo. Não posso assegurar a ninguém o que a China vai ser daqui a 10 anos, o que a China vai fazer com Taiwan, com o Mar do Sul da China. Portanto longe de mim querer estar a comentar ou criticar negativamente uma decisão que deve ter sido discutida e pensada ao longo de muito tempo por esses poderes", afirmou.

As águas territoriais de Timor-Leste, de grande profundidade, são potenciais zonas de navegação de submarinos, quer nucleares quer convencionais.

As embarcações militares SSN-AUKUS, movidas a energia nuclear e armadas convencionalmente, envolverão "investimentos significativos" dos três países, disse na segunda-feira o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

Nesse âmbito, a Austrália vai comprar três submarinos movidos a energia nuclear da classe Virginia dos EUA, com opção de compra de mais dois.

Os submarinos devem ser entregues a partir de 2030, como parte da nova aliança militar AUKUS que junta os três países e foi formalizada em setembro de 2021.

Reagindo ao acordo, a China avisou que os Estados Unidos, Austrália e Reino Unido continuam num "caminho errado e perigoso".

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, disse que o acordo é resultado de uma "mentalidade típica da Guerra Fria" que "vai apenas motivar uma corrida armamentista, prejudicar o regime internacional de não-proliferação nuclear e prejudicar a estabilidade e a paz regional".

"A última declaração conjunta emitida pelos EUA, Reino Unido e Austrália mostra que os três países estão a seguir um caminho errado e perigoso para os seus próprios interesses geopolíticos, ignorando completamente as preocupações da comunidade internacional", disse Wang, em conferência de imprensa.

Críticas também na própria Austrália, com o antigo primeiro-ministro trabalhista Paul Keating a considerar que o acordo com o Reino Unido e os Estados Unidos é "o pior acordo de toda a história".

Keating rejeitou a ideia de que a China represente uma ameaça militar para a Austrália e disse que era "lixo" a ideia de que uma pequena frota de submarinos de propulsão nuclear pudesse defender o país de uma frota naval chinesa, considerando que a Austrália poderia simplesmente afundar a frota "com aviões e mísseis".

Leia Também: Austrália e EUA informam PR timorense sobre submarinos nucleares

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