O mentor do projeto é Aristides Vaz, 46 anos, natural de Tarrafal de Santiago, que em meados de 2017 foi convidado por um amigo para conhecer a localidade de Longueira, localizada a 4 quilómetros a sudoeste de João Teves, centro do concelho, e a 1,5 quilómetros a oeste de São Jorge.
Por ter visitado a zona no período das chuvas, em que se formam pequenas "cachoeiras" nas ribeiras, que atraem muitos visitantes de todas as outras localidades da ilha, o também professor de línguas estrangeiras e promotor turístico viu o potencial nos arredores e ofereceu um curso de inglês e animação turística numa escola básica da localidade.
"Durante o curso decidimos limpar esta área, que é protegida. O objetivo inicial era somente limpar esta área, que praticamente se estava tornando numa lixeira", recordou o promotor, em entrevista à agência Lusa no empreendimento, onde sobressaem várias cores de materiais reciclados, muitos apanhados nas hortas vizinhas.
Aristides Vaz referiu que quando a formação terminou decidiram "criar alguma coisa para que os jovens que participaram no curso pudessem pôr em prática aquilo que aprenderam", recordando que o espaço começou com o quiosque, onde os recém-formados recebiam turistas e vendiam algum produto.
"Primeiro construímos uma cabana, que servia como receção. As pessoas começaram a vir, traziam tendas, acampavam, deixavam as tendas para os próximos visitantes e assim foi crescendo", contou.
Depois, o espaço, um parque de campismo multifuncional, foi batizado de Eco Camp Lemba Lemba, nome de uma árvore local que também significa ir construindo passo a passo.
Pela sua calmaria e tranquilidade, ao cheiro e à sombra de imponentes eucaliptos, o espaço convida o visitante ao descanso, para fugir à correria e stresse dos centros urbanos.
Com duas cabanas e tendas, pode-se também passar a noite no espaço, degustar produtos locais e ainda fazer excursões para os vales e montanhas, já que Lemba Lemba fica situado num dos vales com mais atrativos de fauna e flora da ilha e perto do Pico de Antónia, o ponto mais elevado de Santiago, com 1.394 metros de altitude.
"Aqui a pessoa pode usufruir de tudo. Pode ler, já foram realizadas cerimónias de casamento e muitos outros eventos, a única coisa que não se pode fazer aqui dentro é brigar", brincou o gestor do projeto, que tem a particularidade de usar maioritariamente material reciclado e local, como troncos e folhas de árvores, garrafas de vidro, pneus, palha.
"Desde o início o objetivo é cuidar do meio ambiente. Quando cuidados do meio ambiente, não é uma vaidade, é uma obrigação mesmo, porque o meio ambiente é o nosso lar maior. E quando cuidamos do meio ambiente recebemos algo em troca, e Lemba Lemba é o resultado do nosso cuidado para com o meio ambiente", enfatizou.
Reconhecendo que a ideia nunca foi criar um negócio, e nem atualmente vê o empreendimento como um negócio, mas sim uma "obrigação" de cuidar do meio ambiente.
O espaço é também, segundo o promotor, uma espécie de museu coletivo no meio de eucaliptos, onde os visitantes têm oportunidade de encontrar várias peças que lembram a infância e também oferecem objetos que já não usam para enriquecer ainda mais o acervo.
"Agora, objetos como televisões e frigoríficos não são deitados fora, mas são reutilizados, então Lemba Lemba já está cumprindo o seu objetivo que é reeducar em termos ambientais", insistiu Vaz, que recebe mais visitas de cidadãos nacionais, sobretudo jovens, numa média de 50 pessoas por semana, para estarem em perfeita harmonia com a natureza.
"O nosso objetivo é proporcionar aos visitantes bons momentos em família. É claro que tudo tem custos, mas conversamos, adaptamos e sempre digo que ninguém vem aqui para passar fome ou para ficar sem dormir porque não tem dinheiro. Tentamos passar o espírito de morabeza [a arte de bem receber] aqui do campo", referiu ainda o mesmo responsável à Lusa, que prefere não falar de funcionários do espaço, mas sim de colaboradores que prestam serviço.
Amante da natureza, Aristides Vaz agradece à população e à autarquia local por terem abraçado o projeto, e convida todos a conhecerem a naturalidade e simplicidade do espaço, que é também um exemplo de ecoturismo e de empreendedorismo rural que, considera, deveria ser replicado em toda a parte do mundo.
"Porque nós vivemos na natureza e temos de cuidar dela. Senão estamos a ser muito orgulhosos, achando que somos donos do mundo, apesar do ambiente ter sido feito para nós, por isso temos essa obrigação", apelou o promotor turístico, que não tem ideia de expandir o espaço, mas tentar a cada dia para não perder o foco inicial.
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