Em editorial, o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês, destacou o "enorme valor" da relação entre Pequim e Moscovo, face à "confrontação entre blocos" e à "nova tempestade de uma Guerra Fria impulsionada pelos Estados Unidos".
A relação sino-russa "ultrapassa completamente" as "pequenas cliques formadas por divisões ideológicas e grupos de países ocidentais" e "transcende os antigos paradigmas de divisão de poder, troca de interesses e relações entre dominador/submisso".
O Presidente chinês, Xi Jinping, iniciou na segunda-feira uma visita de Estado de três dias a Moscovo, onde se reúne hoje com o homólogo russo, Vladimir Putin.
A deslocação surge num período de crescente isolamento de Putin no cenário internacional, desde o início da guerra na Ucrânia, e em que Xi, o líder chinês mais forte das últimas décadas, tenta projetar uma imagem de estadista global, à medida que reclama para a China um "papel central" na governação das questões internacionais.
Em particular, o líder chinês avançou com a Iniciativa de Segurança Global, que visa construir uma "arquitetura global e regional de segurança equilibrada, eficaz e sustentável", ao "abandonar as teorias de segurança geopolíticas ocidentais".
A China considera a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, numa altura em que a relação com os Estados Unidos atravessa também um período de grande tensão, marcada por disputas em torno do comércio e tecnologia ou diferendos em questões de Direitos Humanos, o estatuto de Hong Kong ou Taiwan e a soberania dos mares do Sul e do Leste da China.
"Uma vez que a China e a Rússia se dão bem, outros países também podem fazer o mesmo", destacou o Global Times. "Pode-se imaginar que, quanto mais países construírem um novo tipo de relações internacionais, mais pacífico o mundo se tornará", lê-se no editorial.
O jornal afirmou que, "por outro lado, os preconceitos, a obsessão ideológica e o egoísmo geopolítico que existem [nas relações] entre países constituem obstáculos para alcançar o estado ideal das relações internacionais".
O jornal acusou ainda "alguma opinião pública" nos EUA e no Ocidente de "pequenez de espírito", ao "exagerarem maliciosamente" as "trocas normais entre China e Rússia", tentando "distorce-las como uma espécie de má conduta".
A China voltou a negar, na segunda-feira, que tencione fornecer armamento à Rússia, depois de a imprensa norte-americana ter indicado que Pequim está a considerar enviar artilharia e munições para Moscovo.
O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, afirmou que "não é a China" que fornece armas, mas sim os Estados Unidos, e aconselhou Washington a "parar de colocar lenha na fogueira e apontar o dedo a outros países e coagi-los".
Sobre o impacto que a visita pode ter no conflito na Ucrânia, o Global Times limitou-se a apontar que China e Rússia "traçaram um caminho para coexistir como vizinhos amigáveis e potências mundiais com confiança mútua estratégica".
A visita de Xi Jinping à Rússia segue o anúncio surpresa do reestabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita, após uma reunião, em Pequim, numa vitória diplomática para o líder chinês.
Num plano para a paz, proposto no final de fevereiro, Pequim destacou a importância de "respeitar a soberania de todos os países", numa referência à Ucrânia, mas apelou também ao fim da "mentalidade da Guerra Fria", numa crítica implícita ao alargamento da NATO. A China pediu ainda o fim das sanções ocidentais impostas à Rússia.
Mas, mesmo a imprensa estatal chinesa minimizou as perspetivas de a visita de Xi, e o esperado telefonema entre o Presidente chinês e o homólogo da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, resultarem num cessar-fogo ou negociações para a paz, notando que, após um ano de guerra, o abismo entre Moscovo e Kyiv é muito maior do que entre Riade e Teerão.
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