O presidente da comissão, Mohamed Othman, reconheceu perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas que a situação melhorou "de forma significativa" desde a assinatura de cessar-fogo em novembro do ano passado entre o Governo e os separatistas da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês), mas deixa a desejar.
Entre as violações documentadas pela comissão durante os últimos meses estão detenções arbitrárias, violações dos direitos das crianças e a divulgação de discursos de ódio nas regiões do Tigray, Afar, Amhara e Oromia.
"Não devemos esquecer-nos da gravidade e da escala das violações que tiveram lugar na Etiópia desde o ano 2000", disse Othman, assegurando que a entidade a que preside irá colaborar com todos os processos judiciais em marcha e com todos os de indemnizações às vítimas da guerra.
Um acordo de paz, assinado em 02 de novembro de 2022 em Pretória, encerrou dois anos de conflito brutal em Tigray, uma região no norte da Etiópia.
Além disso, o presidente da comissão expressou a preocupação com a falta de canais de prestação de contas sobre violações de direitos humanos cometidas por membros do exército eritreu em território etíope.
Para o efeito, a comissão apelou ao Governo do país a "maior transparência" e garantiu o seu apoio aos diferentes atores nacionais e africanos envolvidos neste processo de paz.
"É necessário que todos os atos cometidos antes e depois do acordo continuem sendo investigados para garantir a paz duradoura e o respeito aos direitos humanos", concluiu Othman, citado pela agência Efe.
No ano passado, uma comissão de inquérito da Organização das Nações Unidas (ONU) disse ter encontrado evidências de crimes de guerra e crimes contra a humanidade perpetrados por forças do Governo etíope, forças do Tigray e militares da Eritreia.
Em dois anos, o conflito matou cerca de meio milhão de civis apenas no Tigray, de acordo com investigadores da Universidade de Ghent, na Bélgica, um número de mortos repetido por autoridades norte-americanas.
O conflito em Tigray iniciou-se em novembro de 2020 na sequência de um ataque da TPLF à base principal do exército federal em Mekelle, após o qual o Governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed ordenou uma ofensiva contra o movimento.
Os combates seguirem-se a meses de tensões políticas e administrativas, incluindo a recusa da TPLF em reconhecer um adiamento das eleições e a sua decisão de realizar eleições regionais à margem de Adis Abeba.
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