"Está a soprar-se nas brasas. As greves vão continuar assim como manifestações e mobilizações, mas, além disso, tenho medo que seja ainda pior em termos de radicalização da população francesa. Ainda pior que os 'coletes amarelos'. Estamos a ver uma grande oposição ao Governo de uma parte da população que faz quase pensar a uma guerra civil", afirmou Pascal Novais, conselheiro municipal na cidade de Pontault-Combault, na região parisiense, em declarações à Agência Lusa.
Para o membro do movimento França Insubmissa e da coligação de esquerda NUPES, dificilmente a situação acalmará em França, nomeadamente depois de o Presidente francês, Emannuel Macron, ter defendido, na quarta-feira, a reforma do sistema de pensões.
"O texto vai prosseguir o seu caminho democrático. Foi preparado pelo Governo após meses de negociações, foi modificado após passar no parlamento [...] e foi adotado pela Assembleia Nacional através do recurso ao artigo 49.3, após ter falhado uma moção de censura. Agora vai ser analisado pelo Conselho Constitucional. Vamos esperar que esta instância se pronuncie e vou promulga-lo", afirmou Macron, em entrevista ao canal TF1.
As declarações do presidente foram muito contestadas pelos sindicatos, nomeadamente por Laurent Berger, que disse que o chefe de Estado francês mentiu sobre a posição dos sindicatos para "mascarar a incapacidade de encontrar uma maioria para votar a sua reforma injusta".
A permanência da primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, no cargo também foi garantida pelo Presidente, com a oposição, sindicatos e manifestantes a pedirem a sua substituição.
"Elisabeth Borne não pode continuar, mas o Presidente Macron já disse que tinha confiança nela. Temos de ter consciência também que ele não tem outra solução, não tem muitos apoios e não tem um primeiro-ministro com capacidade de construir uma maioria que dê tranquilidade ao país", indicou Pascal Novais.
Emmanuel Macron chegou mesmo a falar em "alargar" a maioria, mas esta proposta foi afastada por Eric Ciotti, líder do partido de direita Os Republicanos que disse rejeitar uma coligação de poder, deixando assim o Presidente sem alternativas para apaziguar o país.
Desde a provação da reforma do sistema de pensões, as manifestações e mobilizações espontâneas têm-se multiplicado um pouco por todo o país, com os pontos de encontro a serem marcados na redes sociais onde contas dedicadas a estes protestos agregam milhares de pessoas.
Os mais recentes protestos acontecem fora dos movimentos sindicais e não estão enquadrados pelas autoridades.
Do lado dos sindicatos, os protestos não se fazem só nas ruas, mas especialmente no bloqueios em diferentes setores. As refinarias e os depósitos de petróleo estão entre os locais mais bloqueados pelos trabalhadores, levando já à falta de combustíveis em diferentes pontos do país.
O descontentamento dos trabalhadores levou portos como Marseille-Fos e Brest a pararem de laborar e a vários bloqueios nas estradas.
Em Paris, os cantoneiros já decidiram continuar a greve até segunda-feira, com as incineradoras bloqueadas à volta da cidade e 9,5 mil toneladas de lixo nos passeios.
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