Presenciar um tiroteio numa escola ou na rua é um receio constante nos Estados Unidos. O caso numa escola em Nashville, nos Estados Unidos, já não é sequer o mais recente tiroteio a ocorrer em solo norte-americano e, este ano, o país já registou um total de 131 tiroteios em massa (à data da publicação deste artigo).
Com 86 dias volvidos em 2023, isto quer dizer que os EUA têm registado a ocorrência de cerca de 1,52 tiroteios por dia. Pior: este ano, já existiram mais tiroteios do que dias.
Os dados são do site Gun Violence Archive, que é usado como base de dados por muitos órgãos de comunicação norte-americanos, e que define um tiroteio em massa como um evento onde, pelo menos, quatro pessoas são baleadas e ficam feridas ou mortas, excluindo-se o atirador, quer este tenha ficado ferido ou morto.
Os mesmos dados, analisados pela ABC News, dão conta de que, dos 131 tiroteios registados este ano, 12 deram-se em infantários e escolas com alunos até aos seis anos de idade.
Mapa dos tiroteios registados este ano nos Estados Unidos© Gun Violence Archive
O evento de segunda-feira, em Nashville, fez seis mortos - incluindo três crianças -, além da atiradora.
Já o Gun Violence Archive acrescenta, através do Twitter, que "houve 726 incidentes de tiroteios em escolas desde Sandy Hook [onde morreram 26 pessoas], nos quais um estudante ou funcionário foi ferido ou morto durante uma atividade escolar ou função escolar, em propriedade escolar".
Real-time U.S. gun violence data for 2023, as of March 27th:
— The Gun Violence Archive (@GunDeaths) March 27, 2023
•4,194 deaths
•7,419 injuries
•129 mass shootings
•13 mass murders
•188 children (age 0-11) shot
•1,155 teenagers (age 12-17) shot
•248 defensive use incidents
•344 unintentional shootings
•~5,676 suicides*
O país é, de longe, o que mais armas tem 'per capita' - mais de 120 armas de fogo por cada 100 habitantes, segundo dados citados pela BBC - e as políticas de compra e porte de armas de fogo são das menos restritivas, sendo possível comprá-las em lojas e supermercados - e em muitos estados, é possível fazê-lo sem apresentar identificação.
O facílimo acesso a armas de fogo torna menos surpreendente o facto de a percentagem de homicídios com recurso a arma de fogo supere os 70%, mais do que qualquer outro país no mundo.
Na sequência do evento, a Casa Branca voltou a apelar às autoridades políticas que promovessem mais restrições à venda de armas semiautomáticas. "Precisamos de proibir as armas semiautomáticas, tomar mais medidas para manter os nossos filhos seguros na escola, para que as nossas comunidades não sejam dilaceradas. (...) Isso não pode acontecer. Os educadores não podem colocar as suas vidas em risco quando saem para trabalhar", afirmou a porta-voz da administração Biden, Karine Jean-Pierre.
No entanto, apesar dos apelos constantes por parte dos democratas, das vítimas, dos familiares e de associações de estudantes para que as armas de fogo sejam mais controladas, as iniciativas deverão cair todas por terra.
Tal como aconteceu em 2022, após os tiroteios de Uvalde e de Buffalo, os republicanos conservadores voltaram a travar políticas e medidas de controlo de armas de fogo, defendendo o acesso livre a estes instrumentos. Na base das políticas do Partido Republicano está a 2.ª emenda constitucional que, argumentam, dá o direito aos cidadãos de se defenderem e de deterem armas de fogo.
Em Uvalde, no Texas, poucos meses antes do tiroteio que matou 19 crianças e dois adultos, o governador, Greg Abbott, promoveu legislação que acabava com licenças de porte de arma escondida para qualquer cidadão a partir dos 21 anos, sendo possível adquirir armas a partir dos 18 anos, sem qualquer tipo de documentação ou verificação de antecedentes criminais.
Leia Também: O que se sabe sobre o tiroteio que matou seis pessoas em escola nos EUA