"Não haverá negociações ou diálogo antes de dissolver e acabar com a milícia rebelde de 'Hemedti'", afirmou o Estado-Maior das Forças Armadas sudanesas, referindo-se ao comandante das RSF, general Mohamed Hamdane Daglo.
Os militares sudaneses consideraram Daglo, também conhecido como "Hemedti", um "criminoso fugitivo" e emitiram um comunicado com a imagem do líder paramilitar com a palavra "procurado", pedindo aos cidadãos que comunicassem o seu paradeiro.
Após os confrontos que começaram hoje de manhã, os paramilitares garantiram, em entrevistas a vários meios de comunicação social, que a sua intenção é levar à justiça o líder das Forças Armadas, general Abdel Fattah al-Burhan.
As declarações inflamadas das duas partes exacerbaram ainda mais as tensões entre o Exército e as RSF, que continuam a confrontar-se em Cartum e noutras cidades do país, especialmente na conturbada região do Darfur.
Até agora, as RSF anunciaram que assumiram o controlo de vários aeroportos militares no país, enquanto o Exército garante que a situação "está sob controlo" e que tem capacidade para acabar com os paramilitares "rapidamente", embora esteja a demorar tempo porque os "rebeldes" estão destacados em áreas civis.
A França expressou a sua "profunda preocupação" com a situação que se vive no Sudão e solicitou às duas partes que "façam todo o possível para parar" a violência que se agravou nas últimas horas.
"Só o regresso a um processo político inclusivo, que conduza à nomeação de um Governo de transição e a eleições gerais, poderá resolver de forma sustentável esta crise", defendeu o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado.
A diplomacia francesa avançou ainda que está "disponível, com os outros parceiros do Sudão, para facilitar uma saída da crise e promover uma solução política" e que a sua embaixada em Cartum e o centro de crise em Paris estão mobilizados para garantir a segurança dos cidadãos franceses.
A violência ocorrida hoje no Sudão mereceu uma condenação generalizada, em concreto da Organização das Nações Unidas (ONU), União Europeia, Estados Unidos da América, Rússia e Liga Árabe, que pediram o fim imediato das hostilidades.
Estes confrontos surgem dois dias depois de o Exército ter alertado para uma "situação perigosa" no país que poderia conduzir a um conflito armado, na sequência da mobilização das RSF na capital sudanesa e noutras cidades sem o consentimento ou coordenação das Forças Armadas.
Essa mobilização ocorreu durante as negociações para chegar a um acordo político definitivo que pusesse fim ao golpe de 2021 e conduzisse o Sudão a uma transição democrática, pacto cuja assinatura foi adiada duas vezes neste mês justamente por causa das tensões e rivalidades entre o Exército e as RSF.
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