No encontro, duas semanas após Guterres ter ficado a saber que estava a ser espiado por Washington e que as autoridades norte-americanas o consideravam "demasiado brando" com a Rússia, Blinken disse publicamente estar grato ao secretário-geral pela "sua notável liderança", particularmente em defender os princípios da Carta das Nações Unidas.
Blinken elogiou ainda o trabalho que Guterres realizou pessoalmente em relação ao Acordo dos Cereais do Mar Negro para tentar garantir que alimentos ucranianos continuassem a chegar aos mercados mundiais.
"Os EUA estão intensamente focados nas preocupações que a maioria dos membros da ONU tem quando se trata de construir uma maior segurança alimentar em todo o mundo, lidar com mudanças climáticas, segurança energética, crescimento económico inclusivo (...). Também aí, para nós, a ONU é o parceiro vital. Estou ansioso para discutir tudo isso, e sem dúvida mais, com o secretário-geral", disse Blinken antes do encontro.
Na semana passada, a ONU já havia expressado oficialmente aos Estados Unidos "preocupação" com a espionagem de que o secretário-geral foi alvo, assim como "interferências" do Governo norte-americano.
A ONU deixou claro "que tais ações são inconsistentes com as obrigações dos EUA enumeradas na carta da ONU e na Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas", acrescentou na altura o gabinete de António Guterres.
Hoje no Departamento de Estado, a questão da espionagem também poderá ter sido abordada, com o gabinete de Guterres a informar que o secretário-geral "levantou uma série de questões relacionadas com o acordo do país anfitrião" da sede da ONU.
Entre as obrigações do país anfitrião da sede da ONU está também a obrigação de não impor nenhum impedimento ao trânsito aos representantes de Estados-membros ou funcionários das Nações Unidas e de emitir vistos para que esse trânsito se processe.
Contudo, a conduta dos EUA tem sido alvo de queixas por parte da missão russa junto da ONU, que acusa Washington de arrastar a concessão de vistos a autoridades russas e de não ter dado autorização de viagem a vários jornalistas russos que tentaram deslocar-se esta semana a Nova Iorque, a propósito da presidência russa do Conselho de Segurança durante o mês de abril.
O secretário-geral aproveitou ainda para sublinhar a importância das reformas das instituições multilaterais internacionais, nomeadamente as Nações Unidas e as instituições de Bretton Woods.
Guterres e Blinken abordaram ainda várias das crises da atualidade, como o conflito no Sudão, a guerra na Ucrânia ou a situação no Afeganistão.
Guterres e Blinken "discutiram a importância dos esforços multilaterais para enfrentar os atuais desafios de segurança, como o conflito no Sudão e a importância crítica de um cessar-fogo imediato (...); envolvimento internacional no Afeganistão, principalmente para apoiar os direitos das mulheres e meninas; e outros tópicos de interesse mútuo, incluindo a invasão russa da Ucrânia", disse o gabinete do secretário-geral em comunicado.
[Notícia atualizada às 18h32]
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