"O governo indonésio, através das suas embaixadas em Rangum e Banguecoque, garantiu a libertação de 20 cidadãos indonésios traficados para fraudes cibernéticas na conturbada região de Myawaddy" em Myanmar (antiga Birmânia), lê-se num comunicado divulgado no final da noite de sábado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros indonésio.
A operação, forjada nos últimos dias na sequência de relatos do desaparecimento de 20 cidadãos birmaneses na zona, foi realizada com a ajuda de "redes locais que têm acesso à zona de Myawaddy" e permitiu que estas vítimas de tráfico atravessassem a fronteira em dois lotes (quatro na sexta-feira e 16 no sábado) para viajarem para Banguecoque e, a partir daí, organizarem o seu próximo repatriamento.
Rosa Susanti, irmã de uma das vítimas, contou recentemente à EFE como foram enganadas em outubro, acreditando que iam trabalhar na Tailândia num departamento de atendimento ao cliente, e foram levadas para Myanmar, para uma zona de conflito controlada pelo grupo étnico karen.
Quando chegaram, aperceberam-se de que não iam trabalhar numa linha direta de serviço ao cliente, mas sim efetuar ciberfraudes a cidadãos de todo o mundo a partir de um centro do qual não podiam escapar.
A demissão não era uma opção para estes trabalhadores escravizados, para os quais a empresa exigia uma indemnização de cerca de 12.000 dólares para deixarem o emprego, uma quantia incomportável para estes migrantes, quase sempre de origens humildes.
Várias organizações alertaram nos últimos meses para a venda de trabalhadores do Sudeste Asiático em regime de escravatura a centros explorados por cidadãos chineses no Camboja e, em menor escala, em Myanmar.
Desde fevereiro de 2021, Myanmar vive uma situação turbulenta devido ao golpe militar que mergulhou o país numa crise política, económica e social, com confrontos entre milícias pró-democracia e o regime militar e, paralelamente, confrontos com minorias étnicas, como os karen, que controlam algumas zonas do país.
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