"Fui dos primeiros a fazer pressão e lóbi sobre líderes da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] relativamente à nossa adesão. Cheguei a dizer que parecia mais fácil chegar às portas do céu do que às portas da ASEAN", afirmou José Ramos-Horta, nas cerimónias oficiais do Dia da Europa, realizadas hoje na residência do embaixador da União Europeia em Díli.
"Mas agora, depois de vermos o roteiro, se eles decidirem que só podemos aderir [depois], eu ficarei mais aliviado. O roteiro que vi é o normal, mas coloca grandes pressões nos líderes e nas instituições timorenses e que temos que cumprir", disse.
O chefe de Estado falava na véspera de os Estados-membros da ASEAN aprovarem numa cimeira na Indonésia o roteiro da adesão que determinarão o que Timor-Leste ainda tem de fazer para cumprir os processos necessários a essa formalidade.
Timor-Leste participa como observador na reunião, tal como o pode fazer em qualquer encontro da organização desde que a cimeira anterior, em 2022 no Camboja, aprovou o estatuto de observador para o país.
Ainda assim Timor-Leste continua sem o poder de veto, talvez o mais simbólico da adesão plena a uma organização que baseia as suas decisões no consenso.
Ramos-Horta recordou, porém, que Timor-Leste tem tido compromissos de apoio "de todos os países da ASEAN, de outros países como Portugal e a Austrália e da União Europeia", que ajudam Timor-Leste "a fortalecer os recursos humanos e ser um membro produtivo da ASEAN".
A quase totalidade do corpo diplomático acreditado em Díli, vários membros do executivo e outras individualidades relevantes da sociedade timorense participaram na cerimónia de hoje, em que não esteve presente a embaixadora de Portugal, o único país europeu com embaixada em Díli.
A Embaixada de Portugal em Díli organizou, para a mesma hora, outro evento paralelo de comemoração do Dia da Europa.
No seu discurso, Ramos-Horta referiu-se à situação que se vive na Europa, na região e em Timor-Leste, manifestando "sentida apreciação" pelo apoio que o seu país tem recebido de várias nações europeias, individualmente, bem como de instituições da União Europeia.
"Quero mostrar solidariedade relativamente aos desafios que vocês enfrentam, devido à pandemia que nos afetou a todos e, se isso não fosse suficiente, a guerra na Ucrânia, em solo europeu, mas com ramificações devastadoras em todo o mundo", afirmou.
Numa defesa do sistema democrático, e referindo-se também às conquistas dos europeus, o chefe de Estado agradeceu em particular o apoio no momento atual, particularmente "sensível" devido à campanha eleitoral em curso, mas que, disse, assenta numa defesa intransigente da democracia.
"Temos uma campanha eleitoral muito ativa a decorrer, é um momento sensível. Nem posso almoçar com uns amigos, que isso torna-se logo um caso mediático extraordinário. Mas isso é o reflexo da nossa democracia dinâmica, imperfeita quanto o seja, como a maior parte das democracias", afirmou.
"Mas o que aprendemos, eu e o nosso povo, é que apesar dos desgostos, dos falhanços da democracia, das promessas por cumprir da democracia, ainda não temos provas de uma coisa melhor que a democracia e por isso vamos continuar neste percurso", vincou.
Ramos-Horta disse que a UE sempre esteve com os países em desenvolvimento, abrindo a porta a exportações desses países e apoiando as campanhas de promoção de direitos humanos, com outros apoios significativos.
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