Obras do cartunista Zunzi retiradas das bibliotecas públicas de Hong Kong

Os livros do cartunista político Zunzi foram retirados das bibliotecas públicas de Hong Kong, dias depois de o jornal Ming Pao anunciar o fim da publicação dos trabalhos do artista, após críticas das autoridades.

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© PETER PARKS/AFP via Getty Images

Lusa
13/05/2023 11:03 ‧ 13/05/2023 por Lusa

Mundo

Hong Kong

O departamento de Lazer e Serviços Culturais de Hong Kong começou a retirar as obras de Zunzi, pseudónimo de Wong Kei-kwan, das prateleiras das bibliotecas da cidade para determinar se violam a lei de segurança nacional, de acordo com a agência de notícias Efe.

Na quinta-feira, o jornal de Hong Kong Ming Pao anunciou que ia deixar de publicar os trabalhos de Wong Kei-kwan.

"O Ming Pao gostaria de expressar gratidão a Zunzi por testemunhar como os tempos mudaram connosco ao longo das últimas quatro décadas", disse a editoria responsável pela publicação do trabalho do cartunista.

O trabalho de Zunzi caricaturava as frustrações da sociedade de Hong Kong já desde os tempos em que a cidade era controlada pelo Reino Unido.

Várias caricaturas desenhadas por Wong foram criticadas, nos últimos meses, por diferentes departamentos do Governo, incluindo o da Segurança.

Mais recentemente, o gabinete para os Assuntos Internos e Juventude criticou o trabalho por "manchar" o papel do Governo na nomeação dos membros do comité local que vão escolher, no final deste ano, os candidatos para os conselhos distritais.

No cartoon de Zunzi, um homem diz a uma mulher que, mesmo que algumas pessoas tenham chumbado em exames e sofram de problemas de saúde, podem ser nomeadas para as comissões, desde que "altos funcionários" as considerem aptas.

De acordo com o plano governamental para a reforma dos conselhos distritais, os comités locais, compostos por muitos apoiantes do Governo, vão escolher cerca de 40% dos 470 assentos.

Apenas 20% dos assentos - ao contrário dos antigos cerca de 90% - vão ser diretamente escolhidos pelo público, um valor abaixo do nível estabelecido durante o domínio colonial britânico.

Num comentário à retirada dos livros, o chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, disse, na sexta-feira, que as obras devem ser examinadas para decidir se violam a lei de Hong Kong, se podem ter um impacto adverso na comunidade ou se são "obscenas e indecentes".

Lee afirmou que a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão em Hong Kong são garantidas pela Lei Básica [mini constituição do território], mas disse que o Governo se opõe a "mensagens falsas, tendenciosas, enganosas ou difamatórias".

Entretanto, o chefe da segurança de Hong Kong, Chris Tang, elogiou o jornal Ming Pao por ter assumido a responsabilidade e retirado conteúdos que poderiam ser utilizados para fazer acusações falsas contra as autoridades.

Pequim impôs em 2021 uma lei de segurança nacional na região administrativa chinesa, após gigantes protestos pró-democracia, em 2019.

O Apple Daily, um diário crítico do poder chinês que tinha apoiado o movimento antigovernamental, fechou em meados desse ano, depois de os fundos do jornal terem sido congelados e alguns dos executivos detidos sob a acusação de violarem a lei de segurança nacional.

Hong Kong caiu para 148.º lugar no índice mundial de liberdade de imprensa da organização não-governamental internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) de 2022.

Em 2002, quando o índice foi publicado pela primeira vez, o território foi classificado em 18.º lugar e considerado um paraíso para a liberdade de expressão na Ásia.

Leia Também: Ucrânia. Ativista elogia UE por visar empresas chinesas e de Hong Kong

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