Zelensky 'em guerra' com Washington Post? "Parem de fazer jogos comigo"
O líder ucraniano deixou implícito que os jornalistas da publicação norte-americana podiam estar a ajudar a Rússia, 'invertendo' os papéis e colocando mesmo perguntas a quem o questionava. "O vosso objetivo é ajudar a Rússia? É que então significa que temos objetivos diferentes”, notou.
© Artur Widak/NurPhoto via Getty Images
Mundo Guerra na Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, parece estar a enfrentar conflitos em várias frentes, e, quando não é no campo de batalha, na luta por localizações fulcrais, como Bakhmut, a 'guerra' parece ser no campo das palavras - ou documentos.
Em causa estão os documentos classificados que foram partilhados no mês passado na plataforma Discord, e que, entre outras informações, falavam sobre a guerra na Ucrânia. O Pentágono referiu que os documentos parecem ser verídicos, mas que, no entanto, podem ter o seu conteúdo adulterado - o que pode servir para propagar desinformação.
A aparente tensão entre o 'Post' - como o jornal norte-americano é conhecido - e Zelensky parece ter origem exatamente nesta documentação. O clima 'aqueceu' de tal forma, que o chefe de Estado da Ucrânia chegou mesmo a perguntar ao jornal se o objetivo em divulgar algumas informações "era o de ajudar a Rússia".
O que se passou?
Tudo começou no início de mês, a 1 de maio, quando vários jornalistas do 'Post' inquiriram Zelensky sobre informações que estavam nesses documentos.
A entrevista ficou 'em espera' até meados de maio. No sábado, 13 de maio, foi publicado um artigo com base nesses documentos, nos quais constava a informação de que Zelensky terá admitido a possibilidade de levar a cabo ataques em território russo e, até, ir mais além. "Em segredo, o líder da Ucrânia propôs um caminho mais ousado - ocupar vilas russas para ganhar poder sobre Moscovo, bombardear um oleoduto que leva petróleo russo para a Hungria, um membro da NATO, e secretamente ansiar por mísseis de longo-alcance para atingir alvos dentro das fronteiras russas", escrevia o jornal.
No artigo, os jornalistas escrevem mesmo que esta documentação "revela os instintos agressivos do líder ucraniano", uma faceta contrastante com "a sua imagem pública de estadista estoico". Ainda nesse dia, foi publicada a entrevista feita no início do mês, altura em que Zelensky foi confrontado com estas informações.
No dia seguinte, as partes que se referiam a estas questões foram retiradas do artigo - para saberem repostas a 15 de maio. A publicação explicou que o objetivo da retirada dessa informação era o de "conduzir atividades jornalísticas adicionais" sobre os temas. A publicação rematou que tal deveria ter sido admitido aos leitores.
Mas, afinal, o que perguntou o 'Post'... e o que não respondeu Zelensky?
Recorrendo a informações disponibilizada nos documentos em questão, os jornalistas questionaram Zelensky sobre se teria demonstrado interesse junto dos seus generais em atacar territórios russos. "Não vamos entrar no campo da fantasia. A Ucrânia tem todo o direito de se proteger. (...) A Ucrânia não ocupou ninguém, foi o contrário. Esta guerra é sobre a ocupação da Ucrânia. A Ucrânia tem de ganhar", respondeu.
“Quando tantas pessoas morreram e houve valas comuns e o nosso povo foi torturado, tenho a certeza de que temos de usar todos os truques, todos os diferentes métodos de resposta”, respondeu o líder ucraniano.
Zelensky foi também questionado sobre as alegações de que o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, se terá oferecido para dar informações sobre as tropas russas a Kyiv, algo revelado esta semana. A resposta de Zelensky é um 'contra-ataque', dado que o responsável inverte os papéis e pergunta aos jornalistas onde é que eles obtiveram estas informações. “Com que responsável ucraniano falaram? Porque se eles dizem algo sobre as nossas informações secretas, isso é traição. Se revelam algo sobre um plano de ofensiva específico de um general, isso também é traição”, justifica.
Foram as perguntas relacionadas com a documentação que fizeram Zelensky 'subir de tom', tendo o responsável acabado por fazer acusações. "Estão a divulgar um tipo de informação que não ajuda o ataque do nosso Estado e não ajuda a defesa do nosso Estado. Portanto, não percebo bem do que estão a falar, não percebo bem o vosso objetivo. O vosso objetivo é ajudar a Rússia? É que então significa que temos objetivos diferentes”, atirou.
Zelensky não fica por esta tirada, explicando mesmo que a publicação desta informação ajuda os russos, na medida em que os deixa em estado de alerta para quando será a tão esperada contraofensiva ucraniana - ou mesmo "quão poderosas" são as forças e o que está "a ser planeado". "Se é esse o caso...", nota, deixando implícito que a publicação destas informações ajudará as tropas russas a defenderem-se.
"Parem de fazer jogos comigo. Sou presidente de um país em guerra, um país numa guerra. Já falei sobre estes documentos, já disse que não são bons para o meu povo", concluiu.
E para lá dos documentos secretos?
Zelensky foi também questionado sobre as armas - cujo fornecimento por parte do Ocidente tem vindo a apelar, todos os dias. O presidente confessa que não percebe a hesitação do Ocidente em fornecer armamento de longo alcance a Kyiv já que, de acordo com o que reforçou, "o objetivo não é definitivamente usá-lo em território russo”.
Confrontando com eventuais ataques levados por drones em território russo, como algumas notícias têm vindo a referir, Zelensky explicou que coisas assim só foram feitas em zonas como a Crimeia. "A Crimeia é território da Ucrânia"; rematou.
Ainda sobre a eventualidade de diálogo com a Rússia, Zelensky deixou claro que "é impossível fazer acordos, porque eles não escutam" - referindo-se não só ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, como ao Kremlin.
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