Líderes partidários confiantes na vitória nas eleições em Timor-Leste

Líderes partidários confiantes na vitória nas eleições legislativas de hoje deram o tom a uma jornada eleitoral que decorreu, até agora, sem incidentes, com eleitores orgulhosos a mostrarem os dedos roxos que confirmam terem votado.

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Lusa
21/05/2023 05:57 ‧ 21/05/2023 por Lusa

Mundo

Timor-Leste

Desde as 07:00 (11:00 de sábado em Lisboa) que, em todo o país, bem como na Austrália e na Coreia do Sul, os eleitores começaram a alinhar-se para votar, escolhendo entre 17 partidos concorrentes, dos quais sairão os 65 deputados do novo parlamento.

Nas estações de voto, nas ruas e nas redes sociais, muitos mostravam com orgulho os indicadores direitos marcados a tinta indelével de cor roxa, um dos símbolos do voto em Timor-Leste.

Fiscais partidários, observadores internacionais e muitos jornalistas, incluindo de Portugal, da Austrália e da China, têm acompanhado a votação, que decorre num número recorde de centros de votação, muitos deles instalados em escolas.

Desde cedo, os principais líderes do país votaram nas suas áreas de residência, com os responsáveis das principais forças políticas a mostrarem-se confiantes.

O chefe de Estado, José Ramos-Horta, dos primeiros a votar, defendeu a tranquilidade depois do voto e insistiu na defesa de uma maioria absoluta.

"Mais um dia histórico na consolidação da nossa democracia. Gostaria que saísse uma maioria absoluta, a bem do país e da governação", afirmou Ramos-Horta à Lusa.

"Creio que [depois do voto] não haverá problema. Receia-se sempre, porque em alguns países, como na Guiné-Bissau, e tenho experiência disso, o problema não é antes e durante as eleições, o problema é depois. Aqui, em Timor-Leste, não tem havido esse problema. Em todas as eleições os resultados foram aceites pelos derrotados", afirmou o chefe de Estado.

Noutra ponta da capital, Mari Alkatiri e Francisco Guterres Lú-Olo, respetivamente secretário-geral e presidente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), reiteravam a confiança que manifestaram durante a longa campanha de um mês.

Alkatiri explicou à Lusa, depois de votar, que a eleição é crucial para que a velha geração deixe algo de positivo aos jovens, admitindo que será difícil participar intensamente em futuras campanhas.

"Nós, a velha geração de 74,75, temos de ter consciência de que é necessário deixar algo de positivo, algo de sustentável para este país", disse à Lusa. "E, quer queiramos, quer não, esta deve ser a nossa última campanha em profundidade. E se não pensarmos assim, significa que na próxima (...) não sei para onde vai este país", afirmou.

"Tanta coisa [a fazer]. E não pode ser que aquele que cometeu os erros é que diz que vai corrigir. Erros sobre erros, despesismo total, sem resultados, e depois diz que vai corrigir. Se é assim, se o povo quiser, é outra coisa, mas eu tenho a certeza de que o povo quer a mudança", considerou.

Francisco Guterres Lú-Olo mostrou-se confiante na vitória da Fretilin, antecipando que o voto marcará um novo período de estabilidade e prosperidade no país.

"Uma jornada muito importante para Timor-Leste. (...) Votámos para a paz, para a estabilidade e para consolidar o nosso Estado de Direito democrático. E votámos para desenvolver o país", sublinhou, considerando que a postura da sociedade mudou.

"Garanto isso [estabilidade e prosperidade]. Garanto porque o povo em geral mudou de mentalidade. Mudou de mentalidade [após] ter de ter ultrapassado várias situações, deu para o povo pensar e hoje, pronto, dar o seu voto, a favor da paz, da estabilidade e do Estado de direito democrático", afirmou.

Em Balibar, na zona sul da capital, o presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Xanana Gusmão, afirmou, depois de votar, que a prioridade será corrigir o que diz serem erros do atual Governo, liderado pela Fretilin.

"Passámos um mês inteiro em campanha, em todo o país, e posso dizer que vamos ganhar a maioria absoluta", disse aos jornalistas.

O líder do CNRT, atualmente segunda força no parlamento, disse que os últimos seis anos ficaram caracterizados por atropelos quer ao Estado de direito quer ao sistema financeiro montado no país, situação que, se vencer, quer corrigir.

"Como um país jovem, estamos num processo de construção nacional e do Estado. Houve muitas violações e desrespeito do sistema, especialmente do financeiro, e por isso o que temos de fazer se ganharmos é corrigir isso", afirmou.

"Segundo, temos um outro processo de construção nacional que temos de continuar: o nosso programa que foi sempre definido no plano estratégico de desenvolvimento. E nada foi feito sobre isso nos últimos seis anos", sublinhou.

No bairro de Metiaut, votou o primeiro-ministro e presidente do Partido Libertação Popular (PLP), atual terceira força no parlamento, defendendo que os cidadãos serão a sua prioridade, se voltar ao próximo Governo.

"A prioridade são os nossos cidadãos. Primeira, segunda e terceira prioridades", disse Taur Matan Ruak, depois de votar na Escola Primária 17 de Abril, onde chegou acompanhado do filho e onde estavam, na altura, poucos eleitores à espera.

Mostrando-se confiante na vitória, vincando sentir-se honrado pelo apoio que venha a receber dos cidadãos, o chefe do Governo rejeitou que os últimos anos tenham sido difíceis, congratulando-se com o que foi feito pelo seu executivo.

"Primeiro, não foram anos difíceis (...) Só se ganha quando se tem condições e capacidade para enfrentar os desafios. Foi o que nós fizemos", afirmou.

"Nós temos programa. A plataforma [do atual Governo] sabe o que quer e o que vai fazer. E nós estamos muito determinados a levar o nosso país para outro patamar de desenvolvimento", disse, destacando como prioridades "combater a pobreza e a má nutrição".

Já sobre se estas legislativas marcarão o último processo eleitoral encabeçado pelos líderes mais velhos, concretizando a tão falada transição geracional no país, Taur Matan Ruak, 66 anos, foi enfático: "eu vou viver até aos 150 anos, e alguém vai ter de me aturar".

Já o presidente do Partido Democrático (PD) em Timor-Leste, Mariano Assanami Sabino, disse à Lusa que, após os resultados das legislativas, pode pensar numa coligação com o vencedor, mas que o partido está pronto "para servir".

Questionado sobre se o PD estaria disponível para uma coligação pós-eleitoral com a Fretilin ou com o CNRT, Mariano Sabino disse que a decisão ainda está nas mãos dos eleitores.

"Depende. Porque a decisão é do povo. Quando o povo decidir, depois, amanhã, pode discutir-se [isso]", mas o PD está "pronto a servir", sublinhou.

O líder do PD defendeu ainda que Timor-Leste, enquanto nação democrática, "não precisa de [uma maioria] absoluta", mas sim de programas sólidos, de visão e ação, para responder aos grandes problemas: "libertar o povo da fome" e assegurar "água e saneamento".

Leia Também: Timor-Leste precisa de liderança competente para não ser "Estado falhado"

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