O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky admitiu hoje a perda da cidade afirmando que Bakhmut está agora "apenas nos corações" dos ucranianos e que "já não há lá nada", numa referência à quase completa destruição da cidade.
Apesar de vários analistas apontarem a região de Bakhmut como pouco importante estrategicamente, outros veem-na como uma via de acesso russo ao controlo da província de Donetsk, anexada em setembro, ou como uma forma bem sucedida de desgaste das forças de Moscovo e seu grupo mercenário Wagner, antes de uma contraofensiva ucraniana esperada na primavera ou no verão.
Esta é a batalha mais longa desde a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, e do cerco de Mariupol, no sul do país, numa luta sangrenta comparável aos últimos conflitos mundiais.
Cronologia dos principais acontecimentos da batalha de Bakhmut:
2022
Maio
17 - As forças russas bombardeiam a cidade, atingido um prédio residencial, com o resultado de um morto e uma criança gravemente ferida.
Julho
25 - Após vários bombardeamentos nos meses anteriores contra Bakhmut, as tropas russas começam a concentrar esforços para uma ofensiva nas cidades vizinhas de Siversk e Soledar.
Agosto
01 - Forças russas conduzem ataques terrestres no sul e sudeste de Bakhmut, mas sem sucesso.
04 - Após três dias de intensos bombardeamentos, o grupo mercenário pró-russo Wagner consegue romper as linhas de defesa ucranianas na periferia leste da cidade.
14 - Fontes russas e ucranianas admitem avanços em várias localidades perto de Bakhmut, em ataques liderados pelo Grupo Wagner, que se assume como a principal força de combate nesta frente.
Setembro
20 - Aleksey Nagin, comandante de um destacamento do Grupo Wagner é morto em combate.
28 - Começam a surgir notícias de reforços do Grupo Wagner, com recurso a prisioneiros na Rússia e nas regiões separatistas.
Novembro
29 - O Grupo Wagner acerca-se cada vez mais de Bakhmut, conquistando localidades vizinhas, apesar de forte resistência ucraniana, ao fim de meses de batalhas intensas e bombardeamentos russos incessantes.
Dezembro
07 - O Ministério da Defesa da Rússia afirma que as tropas ucranianas tentaram, sem sucesso, recuperar posições perdidas a sul de Bakhmut, sofrendo, segundo várias fontes russas, pesadas perdas.
12 - O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusa Moscovo de destruir Bakhmut, admitindo que "a situação da linha de frente continua muito difícil" nas principais áreas do Donbass, no leste do país, onde desde há bastante tempo não "há lugar algum que não tenha sido danificado por bombardeamentos e tiroteios".
20 - Zelensky faz uma visita não anunciada a Bakhmut, na linha de frente, onde se reúne com as tropas e distribui condecorações aos soldados.
26 - O governador da província de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, diz que mais de 60% das infraestruturas de Bakhmut foram parcialmente ou totalmente destruídas.
No mesmo dia, o comando militar do Exército ucraniano no Leste afirma que as áreas de Bakhmut e Avdiivka continuam a ser os locais das hostilidades mais pesadas e relata que houve 28 episódios de combates e 225 disparos de artilharia e tanques na região apenas em 24 horas.
2023
Janeiro
07- O fundador do Grupo Wagner e empresário com fortes relações com o Kremlin, Yevgeny Prigojine, afirma que "a cereja do bolo é o sistema das minas de Soledar e Bakhmut", acrescentando que, "na verdade, é uma rede de cidades subterrâneas, que não só tem a capacidade de manter um grande grupo de pessoas a uma profundidade de 80 a 100 metros, mas tanques e veículos de combate de infantaria".
12 - A ONU alerta para a situação dos civis que permanecem nas cidades ucranianas de Soledar e Bakhmut, frisando que, perante os intensos combates, as hipóteses de retirada ou assistência de 7.500 civis são muito reduzidas.
25 - As autoridades de Kiev reconhecem a perda de Soledar, depois de vários dias de anúncios da sua conquista pelo Grupo Wagner e negação ucraniana e após revezes russos nos últimos meses na frente de combate, o que aproxima as forças de Moscovo do cerco final de Bahkmut, a cerca de 20 quilómetros de distância, e aumenta a influência dos mercenários de Prigojine no decurso da guerra.
19 - O responsável do Grupo Wagner declara que as suas tropas têm "coisas a aprender" com o Exército ucraniano, na batalha de Bakhmut, que "está a trabalhar de forma eficiente, coerente", numa batalha "metro a metro".
25 - A vice-ministra da Defesa ucraniana admite que a Rússia, em "superioridade numérica", continua a intensificar os ataques no leste da Ucrânia, no mesmo dia em que os aliados ocidentais anunciam o fornecimento de tanques pesados a Kiev.
Fevereiro
04 - O Presidente ucraniano reconhece que a ofensiva russa de inverno colocou as forças ucranianas em grandes dificuldades a leste: "Um momento em que o ocupante está a mobilizar as suas forças cada vez mais para quebrar a nossa defesa. Está muito difícil agora em Bakhmut, Vugledar, Lyman e noutras regiões", afirma.
11 - Prigojine prevê que a guerra se pode arrastar por vários anos. O líder do Grupo Wagner diz que pode levar de 18 meses a dois anos para a Rússia garantir o controlo total do coração industrial oriental da Ucrânia.
14 - Zelensky volta a reconhecer uma situação "extremamente difícil" na resistência às tropas russas, que vêm ganhando terreno nas últimas semanas, principalmente perto de Bakhmut. "Cada metro ganho é uma defesa de todo o nosso país. Cada dia que os nossos heróis resistem em Bakhmut, Vugledar, Maryinka e outras cidades e comunidades no Donbass significa a redução da agressão russa por semanas", declara.
16 - Prigojine começa a demonstrar descontentamento com as autoridades russas, referindo que a "monstruosa burocracia" de Moscovo está a impedir a conquista rápida da região de Bakhmut.
17 - A Ucrânia insta aos cerca de seis mil civil que, segundo as autoridades de Kiev, ainda se encontram em Bakhmut a abandonarem imediatamente a cidade
Os EUA estimam que mais de 30 mil mercenários do grupo Wagner, apoiado pelos dirigentes da Federação Russa, morreram desde o início da invasão da Ucrânia pelos militares do Kremlin, segundo a Casa Branca. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Presidência dos EUA, John Kirby, indica em conferência de imprensa que, dessas baixas, cerca de nove mil ocorreram desde meados de dezembro, com a intensificação da batalha por Bakhmut.
21 - Prigojine acusa o Estado-Maior russo de traição por recusar-se a fornecer equipamento aos seus mercenários, na linha da frente no leste da Ucrânia.
22 - O Ministério da Defesa russo considera "absolutamente falsas" as declarações do chefe do grupo mercenário Wagner de que o Exército parou de fornecer munições aos combatentes no Donbass.
27 - O Presidente ucraniano admite que a situação das tropas ucranianas em torno de Bakhmut "é cada vez mais complicada". "O inimigo destrói sistematicamente tudo o que pode ser usado para proteger as nossas posições", acrescentou Zelensky, classificando os soldados ucranianos empenhados nessa batalha como "verdadeiros heróis".
Março
04 - O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, visita um "posto de comando" na frente de batalha no leste da Ucrânia.
06 - O portal de notícias ucraniano Kyiv Independent publica testemunhos de soldados ucranianos nas frentes de combate em Bakhmut, indicando que se sentem desprotegidos face à vaga de bombardeamentos e ataques russos.
A presidência ucraniana garante que vai reforçar as suas posições em Bakhmut, quando se especula sobre uma eventual retirada das forças comandadas por Kiev.
O líder do Grupo Wagner volta a reclamar por falta de munições, atribuindo novamente os atrasos nas entregas a uma possível traição das autoridades de Moscovo e alertando que as tropas ucranianas vão defender a cidade sitiada "até ao fim".
07 - As autoridades russas na região de Donetsk afirmam que as forças militares da Rússia controlam quase metade do território da cidade de Bakhmut.
08 - O líder do Grupo Wagner diz que as suas tropas tomaram "toda a parte oeste" da cidade de Bakhmut.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, admite que Bakhmut poderá cair "nos próximos dias" para as forças russas, insistindo que é preciso levar a sério a capacidade das Forças Armadass da Rússia.
10 - As tropas russas aumentam o ritmo da ofensiva no noroeste de Bakhmut, após terem conquistado a parte oriental da cidade, enquanto Kiev reforça posições no oeste para defender vias vitais para a sua sobrevivência.
12 - Mais de mil militares russos morreram e pelo menos 1.500 ficaram gravemente feridos nos combates da última semana em Bakhmut, segundo o Presidente da Ucrânia. Posteriormente, Zelensky garantiu que não ia deixar cidade, ao contrário de conselhos de aliados que insistem em criar reservas para uma contraofensiva na primavera.
14 - As autoridades ucranianas afirmam que vão "continuar a defender" a cidade de Bakhmut.
As forças russas disparam munições incendiárias de fósforo branco numa área desabitada em Chassir lar, perto de Bakhmut.
O ministro da Defesa da Rússia afirma que a Ucrânia perdeu mais de 11 mil soldados em fevereiro, em Bakhmut e arredores, números que são recusados por autoridades ocidentais.
15 - As tropas ucranianas continuam a defender Bakhmut, apesar do persistente assalto das tropas russas.
18 - As tropas russas têm a cidade praticamente cercada mas não tomaram o centro, e na região leste terão apenas conquistado 60 quilómetros quadrados, segundo uma estimativa do projeto de investigação jornalística Grid.
Agências de informação ocidentais estimam que a Rússia tenha sofrido entre 20 mil e 30 mil baixas só na batalha de Bakhmut.
Duas pessoas morrem e oito ficam feridas na sequência de ataques russos com "munições de fragmentação" em Kramatorsk, perto de Bakhmut.
20 - O líder do Grupo Wagner pede ajuda a Moscovo para deter uma contraofensiva ucraniana em Bakhmut.
A vice-ministra da Defesa ucraniana assegura que apesar do avanço das tropas russas em Bakhmut, o exército ucraniano também efetuou progressos "em certas zonas".
21 - O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) indica que cerca de 3.000 civis permanecem em Bakhmut.
22 - Zelensky visita as tropas que defendem de Bakhmut.
25 - O Presidente da Ucrânia alerta que as forças ucranianas que lutam contra a Rússia na frente oriental do país enfrentam uma possível desaceleração das suas operações devido à falta de munições.
28 - O líder pró-russo na região ucraniana de Donetsk anuncia que as forças russas conseguiram o controlo quase total da zona industrial de Bakhmut.
29 - O Presidente ucraniano adverte que, caso a Rússia vença a longa batalha por Bakhmut, o povo ucraniano "vai sentir-se cansado" e fazer pressão "para chegar a um compromisso" com Moscovo.
Abril
11 - Prigojine assegura que as suas forças controlam mais de 80% da cidade ucraniana de Bakhmut.
13 - O Ministério da Defesa da Rússia diz que a cidade de Bakhmut está bloqueada, numa versão que colide com as declarações do líder do grupo Wagner e dos militares ucranianos.
14 - A batalha por Bakhmut intensifica-se novamente, destacam analistas e autoridades russas, enquanto os defensores ucranianos da cidade arrasada pelo conflito resistem a um ataque russo coordenado em três frentes.
17 - As forças do Grupo Wagner tomam duas novas zonas de Bakhmut, segundo o Ministério da Defesa russo.
19 - Forças aerotransportadoras russas bloqueiam a cidade de Bakhmut, nas direções norte e sul, declara Moscovo.
26 - Prigojine volta a criticar bloqueios no envio de munições para as suas forças, alertando que a situação se agravará com a "inevitável" contraofensiva ucraniana.
28 - O vice-primeiro-ministro russo, Marat Khusnullin, afirma que visitou o centro dos combates no leste da Ucrânia em Bakhmut, prometendo reconstruir a cidade após ser ocupada por Moscovo.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, promulga uma lei que concede o estatuto de veteranos de guerra e inválidos aos combatentes das quatro regiões anexadas na Ucrânia, e que inclui os membros do grupo paramilitar Wagner.
Maio
01 - Os Estados Unidos estimam que o número de soldados russos mortos na Ucrânia desde dezembro ronda os 20 mil, metade dos quais mercenários do Grupo Wagner, e os feridos ultrapassam os 80 mil.
03 - Prigojin declara que a contraofensiva ucraniana já começou, ao constatar o aumento da atividade do exército e de atos de sabotagem em território russo.
05 - O Grupo Wagner ameaça retirar os seus combatentes de Bakhmut, a partir de dia 10, por falta de munições.
O líder checheno, Ramzan Kadirov, expressa a sua disposição para substituir o Grupo Wagner com as suas unidades especiais
08 - O líder do Grupo Wagner diz que prosseguem combates intensos em Bakhmut, indicando que as suas tropas estão a receber mais munições.
09 - Prigojin acusa os soldados do Exército russo de abandonarem posições em Bakhmut, e volta a dirigir críticas a Moscovo, acusando o Estado Maior de ser incapaz de defender a Rússia, ao mesmo tempo que insiste na necessidade de mais munições.
10 - As forças armadas ucranianas revelam que uma das brigadas russas que tentava tomar o controlo da cidade de Bakhmut deixou as suas posições, abandonando 500 soldados mortos.
12 - O Governo da Ucrânia anuncia um avanço de dois quilómetros na linha da frente em Bakhmut, e que, só no último dia, foram travados 40 combates, de que resultaram 190 mortos russos, 244 feridos e outros 15 capturados.
Prigojin admite que as tropas ucranianas se aproximaram até 500 metros a noroeste de Bakhmut devido à fuga das forças regulares russas que protegiam aquele flanco da cidade e adverte que as forças inimigas podem aproveitar esta rota para terem a cidade "na palma da mão".
20 - O líder do grupo Wagner e o ministério da Defesa russo dão a cidade como conquistada. Vladimir Putin felicita os seus soldados e os mercenários.
21 - O Presidente da Ucrânia admite a perda de Bakhmut e diz que a cidade agora está "apenas nos corações" dos ucranianos.
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