Muitos Estados do continente africano recusaram-se a tomar partido no conflito em curso na Europa há exatamente 15 meses, tendo-se vários deles abstido em votações na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que condenavam a invasão russa da vizinha Ucrânia, a 24 de fevereiro do ano passado. A Etiópia foi um deles.
Falando hoje na capital etíope, Adis Abeba, Kuleba afirmou que a Ucrânia está "muito perturbada por alguns países africanos terem optado por abster-se" e exortou-os a dar ao seu país apoio diplomático "perante a agressão russa".
"A neutralidade não é a resposta", disse o chefe da diplomacia ucraniano à imprensa, acrescentando: "Ao serdes neutros em relação à agressão russa contra a Ucrânia, estais a projetar essa neutralidade sobre violações de fronteiras e crimes em massa que possam acontecer muito perto de vós".
A Rússia mantém uma presença substancial em diversas zonas de África, onde o grupo de mercenários russo Wagner está ativo e efetuou recentemente manobras militares conjuntas com a África do Sul. Moscovo planeia realizar uma cimeira África-Rússia em julho.
Kuleba apelou também aos países africanos para apoiarem o "Plano de Paz de Dez Pontos" proposto em dezembro pelo Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e sublinhou o desejo da Ucrânia de construir relações "mutuamente vantajosas" com África, assentes no comércio de energia, tecnologia e fármacos.
"Temos de nos recordar uns aos outros da importância de África para a Ucrânia e da Ucrânia para África", sustentou, admitindo que a anterior atitude do seu país em relação àquele continente se caracterizava pela "inércia".
Tanto a Ucrânia como a Rússia fornecem uma quantidade significativa de cereais a África.
Dmytro Kuleba está a fazer um périplo africano que também incluirá visitas a Marrocos e ao Ruanda.
Na Etiópia, reuniu-se com o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, o presidente da Comissão da União Africana, Mussa Faki Mahamat, e o Presidente da República das Comores, Azali Assumani, que atualmente preside àquela organização continental.
O MNE ucraniano realizou a sua primeira viagem a África em outubro do ano passado, quando visitou o Senegal, a Costa do Marfim, o Gana e o Quénia. Essa digressão foi encurtada devido a ataques russos a infraestruturas do seu país.
O seu homólogo russo, Serguei Lavrov, também tem trabalhado ativamente para fortalecer as relações com países africanos desde a eclosão da guerra na Ucrânia, tendo viajado pelo continente uma vez em 2022 e realizado pelo menos duas visitas este ano, até agora.
A ofensiva militar lançada em fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 455.º dia, 8.895 civis mortos e 15.117 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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