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Presidenciais. Candidato da oposição turca virou à direita na 2.ª volta

A campanha para a segunda volta das eleições presidenciais na Turquia, que decorrem no próximo domingo, ficou aquém da ampla mobilização do escrutínio de 14 de maio e fez o rival do presidente Erdogan regressar a um discurso nacionalista radical.  

Presidenciais. Candidato da oposição turca virou à direita na 2.ª volta
Notícias ao Minuto

14:39 - 26/05/23 por Lusa

Mundo Turquia/Eleições

Em Istambul - uma metrópole de 16 milhões onde se vê tudo, há de tudo e consome-se tudo - nada parece indicar que se aproxima um escrutínio decisivo, exceto os cartazes e a propaganda nas ruas, deixada das eleições legislativas e presidenciais de há duas semanas, onde a aliança em torno do presidente Recep Tayyip Erdogan e liderada pelo seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) voltou a assegurar maioria absoluta no Parlamento.

No centro da cidade, perto da antiga catedral bizantina de Hagia Sophia - durante muitas décadas museu secular após a implantação da República em 1923 e de novo mesquita desde 2018 por ordem presidencial, apesar de permanecer aberta a visitas -, a população de Istambul, os excursionistas internos e os turistas estrangeiros misturam-se num diversificado frenesim de cores, hábitos, comportamentos.

O embate eleitoral de domingo é recordado por uma ou outra carrinha enfeitada com cartazes e altifalantes que difunde o apelo ao voto em Erdogan ou no rival da oposição para as decisivas presidenciais, mas não estão previstos grandes comícios, ao contrário do que sucedeu há cerca de três semanas.

A televisão, com alguns acesos debates, as redes sociais e os arranjos de bastidores partidários prevaleceram na reta final eleitoral, sobrepondo-se ao prévio ambiente festivo e acabando por concentrar atenções.

O presidente islamista conservador, que se candidata pela terceira vez ao cargo desde 2014, foi agora forçado a uma segunda volta contra Kemal Kiliçdaroglu, desde 2010 o líder do Partido Republicano do Povo (CHP, centro-esquerda e laico), mas que nas duas últimas semanas protagonizou uma viragem à direita para tentar captar o voto ultranacionalista, desagradando as forças mais à esquerda que o apoiam.

Erdogan - que desde 2017 assumiu após referendo um estrito regime presidencialista com crescentes características autoritárias - consolidou-se como favorito na primeira volta ao obter 49,5% dos votos expressos (muito perto dos 50% mais um que evitaria esta segunda eleição), face aos 44,9% do líder opositor, que contestou os resultados oficiais.

A estratégia dos dois rivais centrou-se na tentativa de assegurar os 5,2% de votos que na primeira volta contemplaram o ultra-direitista Sinan Ogan, terceiro candidato presidencial e com um acentuado discurso anti-imigração.

No início desta semana, Ogan declarou publicamente o seu apoio a Erdogan, mas dois partidos nacionalistas que o apoiaram na campanha e integrados na Aliança Ancestral (ATA) optaram por apoiar Kiliçdaroglu e o seu discurso dirigido contra os 3,5 milhões de refugiados da guerra na Síria que começaram a ser acolhidos desde 2011.

Um jogo de equilíbrio também destinado a evitar a deserção do decisivo voto curdo e das formações de esquerdas que lhe reafirmaram apoio, desta vez de forma menos convincente, mas que mantêm como principal objetivo a "mudança do regime".

O tom duro de Kiliçdaroglu, apoiado por uma heterogénea coligação partidária que inclui o centro-direita neoliberal e o nacionalismo radical, contrastou agora com o da primeira volta, de tranquilidade e esperança, e enquanto Erdogan optou por suavizar as suas declarações.

"Os sírios vão sair" ou "O terrorismo vai terminar" foram as frases da segunda campanha do opositor, também numa tentativa de se demarcar das recorrentes acusações de "conluio com o terrorismo" emitidas por Erdogan pelo apoio que recebe do Partido Democrático dos Povos (HDP), pró-curdo e em riscos de dissolução,  definido pelo regime como braço político da guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

No entanto, a promessa central de Kiliçdaroglu mantém-se: reconstruir a Turquia, melhorar a democracia e o Estado de direito, combater a pobreza, o desemprego e a corrupção, e quando as projeções económicas apontam para um acentuado agravamento da crise num país onde o salário mínimo (8.500 liras, cerca de 425 euros) abrange 70% da população ativa.

Apesar do tom mais suave que adotou na segunda volta, assente numa Turquia indivisível, muçulmana e sunita, Erdogan voltou a utilizar a retórica nacionalista e religiosa, associando o seu rival presidencial aos "terroristas", tema que tem suscitado forte polémica, ou a "aliado de potências imperialistas".

O presidente turco, que antes da sua primeira eleição ocupou entre 2003 e 2014 o cargo de primeiro-ministro, também se confronta com um problema político após o seu AKP ter admitido na coligação eleitoral que lidera (Aliança Popular) o pequeno partido fundamentalista curdo Huda-Par, herdeiro de um grupo armado ultra-islamista da década de 1990 e que elegeu quatro deputados para o novo Parlamento.

Um dos dirigentes deste partido já considerou não ser "adequado" que os seus eleitos prestem o obrigatório juramento ao texto constitucional, por refletir uma "ideologia" contestada por esta corrente islamista.

A cerimónia inaugural do novo Parlamento e o juramento da Constituição deveria ter ocorrido três dias após a divulgação dos resultados oficiais, anunciados na passada sexta-feira - após dirimidas impugnações e recontagens - mas o seu adiamento está a ser entendido como uma forma de Erdogan evitar dissensões no amplo campo nacionalista que também o apoia.

Apesar de não existirem projeções, sempre falíveis, é difícil a tarefa de Kiliçdaroglu de captar os 2,6 milhões de votos que lhe faltam para chegar à presidência.

A retórica nacionalista e xenófoba que também privilegiou no seu discurso desiludiu e desmotivou muitos dos seus apoiantes, em particular nos centros cosmopolitas e entre os jovens. O que também favorece Erdogan, que apenas necessita de mais 400.000 votos face à primeira volta.

Leia Também: Media entre controlo do Governo, perseguições e prisões na Turquia

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