Moçambicanos dormem ao relento para conseguir recenseamento eleitoral

A quatro dias do fim do recenseamento eleitoral em Moçambique, há munícipes da cidade da Beira a dormir ao relento para garantir um lugar nas filas e ter acesso ao cartão de eleitor.

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Lusa
30/05/2023 14:18 ‧ 30/05/2023 por Lusa

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Beira

Jaime José, 47 anos, pai de cinco filhos, está na fila de um posto de recenseamento instalado numa escola do bairro de Macurungo com a esposa e o filho mais velho, todos com um cobertor a cobrir os pés.

"Em casa ficaram apenas as crianças menores. Queremos o cartão de eleitor para poder votar naquele que poderá dirigir a cidade nos próximos cinco anos", disse, ao falar das autárquicas de 11 de outubro.

A cidade da Beira é uma das raras autarquias que não está nas mãos da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder no país desde a independência.

Em 2019, das 53 autarquias do país, a Frelimo ganhou em 44, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) venceu em oito e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) detém o poder na cidade da Beira.

Jaime diz que está a tentar recensear-se há uma semana, mas tem sido sempre obrigado a desistir devido às demoras.

Confessa-se surpreso pela forma como o processo está a ser gerido este ano pelos órgãos eleitorais. 

"Nos anos anteriores isso não acontecia, mas agora as máquinas estão muito lentas, não sabemos porquê. Temos de dormir aqui para nos conseguirmos inscrever", afirmou.

Com um rosto cansado e queixar-se do frio da madrugada nesta época do ano, Maria Barros, 56 anos, decidiu dormir na fila de um posto de recenseamento do bairro de Matacuane porque não conseguia ter o cartão por causa de enchentes e lentidão dos "brigadistas" (funcionários dos postos). 

"Não irei dormir em casa até obter o meu cartão. É estratégico estar aqui a esta hora para o conseguir. Já tentei mais de cinco vezes", relatou.

Ao lado, Margarida João tem o mesmo rol de queixas: "De dia isto enche muito. Este processo é moroso. Estamos irritados, não estamos a entender o que está a acontecer".

No bairro Munhava Central, Massimbe Francisco, funcionário publico, também diz que é difícil entender o que realmente se passa, dizendo que tal nunca aconteceu nos censos eleitorais passados.

"Este é o meu terceiro dia a pernoitar aqui na escola. Os brigadistas têm facilitado pessoas alheias em detrimento dos que estão na fila", vincou.

A existência de listas prioritárias ilegais é um dos problemas relatados pelas organizações de observação eleitoral que está a atrasar o recenseamento em vários pontos do país, além de problemas técnicos.

Jorge Donquene, diretor provincial do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) em Sofala, também tem ouvido as queixas junto aos postos e referiu que está a haver um reforço de equipamento

"O recenseamento na Beira está a ser caracterizado por alguma turbulência. Todo o mundo quer mandar, sobretudo políticos que se deslocam aos postos para fazer entrevistas, organizar filas e definir prioridade", lamentou, prometendo melhorias para os dias que restam.

O consórcio de observação eleitoral Mais Integridade referiu no balanço da quinta semana de recenseamento que "o aumento de equipamento e alargamento das horas de funcionamento dos postos gerou uma melhoria".

No entanto, "casos de suspensão de operações por avarias continuam a afetar o desempenho das operações".

O recenseamento arrancou a 20 de abril e decorre até sábado, prevendo-se o registo de cerca de 10 milhões de eleitores para as eleições autárquicas de 11 de outubro.

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