O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reforçou, esta terça-feira, que a destruição da barragem de Nova Kakhovka, cujas responsabilidades o regime de Kyiv atribuiu à Rússia, "não vai parar a Ucrânia e os ucranianos" no que diz respeito à contraofensiva, salientando, contudo, que o incidente se tratou de uma "bomba ambiental de destruição massiva".
Tecendo agradecimentos a todos os envolvidos na ajuda aos cidadãos afetados pelas inundações resultantes do desastre, o chefe de Estado ucraniano assegurou que o governo está a "fazer de tudo para salvar as pessoas e fornecer água potável àqueles que a recebiam do reservatório de Kakhovka".
"O mundo inteiro ficará a saber sobre este crime de guerra russo, o crime de ecocídio. Esta destruição deliberada da barragem e de outras instalações pelos ocupantes russos é uma bomba ambiental de destruição em massa. Pela sua própria segurança, o mundo deveria, agora, mostrar que a Rússia não escapará impune de tamanho terror", atirou o Zelensky, mostrando-se também agradecido por todos os líderes que "apoiaram a Ucrânia e estão prontos para ajudar".
O responsável adiantou ainda que a procuradoria-geral ucraniana já recorreu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) "para envolver a justiça internacional na investigação da explosão da barragem".
Além disso, o chefe de Estado destacou ter conversado com o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, junto do qual apelou para que condenasse "direta e inequivocamente o ato de terrorismo russo" e "maximizar os esforços" da libertação de Zaporíjia.
"Apenas a libertação das terras ucranianas dos ocupantes russos garantirá que tais atos de terrorismo não voltam a acontecer. A Rússia usa qualquer coisa para o terror – qualquer objeto. O estado terrorista deve perder", disse, considerando que este ataque a uma estrutura "extremamente importante, em particular para fornecer água à Crimeia", aponta para o facto de as forças de Moscovo "já perceberam de que também terão de fugir" daquele território ocupado desde 2014.
De notar que, face ao desastre, a Ucrânia anunciou que vai retirar 17 mil civis das zonas inundadas em torno da barragem, parcialmente destruída por uma explosão, cuja autoria gerou trocas de acusações entre Kyiv e Moscovo.
Cerca de 800 pessoas, 66 das quais com mobilidade reduzida, foram retiradas pela Cruz Vermelha e pelos serviços de emergência ucranianos, que detalharam, através das redes sociais, que pelo menos 80 localidades estão em risco de inundações.
Recorde-se que a destruição parcial da barragem, numa região controlada pelas forças russas, provocou inundações em pelo menos 24 localidades, segundo anunciou o ministro do Interior ucraniano, Igor Klymenko.
Considerada no início da invasão como um alvo prioritário para os russos, esta barragem hidroelétrica no rio Dnipro está agora na linha da frente entre as regiões controladas por Moscovo e o resto da Ucrânia.
Segundo Kyiv, "cerca de 16 mil pessoas encontram-se numa zona crítica", ameaçadas pelas inundações provocadas pela destruição parcial da barragem, dando ainda conta de que 150 toneladas de óleo de motor foram derramadas no rio Dnipro.
Moscovo disse que 14 localidades, onde vivem "mais de 22 mil pessoas", estão sob ameaça, mas considerou que a "situação está totalmente sob controlo".
A barragem situa-se a 150 quilómetros da central nuclear de Zaporíjia, mas a AIEA disse que as cheias provocadas pela destruição da infraestrutura não representam um perigo imediato para a central.
Construída na década de 1950, durante o período soviético, a barragem permite o envio de água para o canal da Crimeia do Norte, que parte do sul da Ucrânia e atravessa toda a península ocupada e anexada por Moscovo desde 2014.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram mais de 8.895 civis desde o início da guerra e 15.117 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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