"Uma atmosfera onde não existem intimidações nem ações criminosas. É isso que devemos garantir em conjunto", indicou o primeiro-ministro Albin Kurti num vídeo em sérvio publicado no Facebook.
Kurti lamentou a baia participação no escrutínio de abril, cerca de 3% dos eleitores inscritos, motivado pelo boicote e anunciou que os munícipes então designados, de origem albanesa kosovar e rejeitados pelos sérvios, abandonarão as suas funções após a eleição de novos responsáveis locais.
Kurti, que tem sido submetido a inéditas e fortes pressões por parte dos representantes especiais para o Kosovo dos EUA e da União Europeia, também prometeu uma progressiva redução das forças especiais de polícia enviadas para os quatro municípios do norte onde os sérvios são maioritários, e cuja presença tem motivado contínuos protestos.
Os distúrbios mais graves ocorreram em 29 de maio entre manifestantes sérvios e forças a missão da NATO no Kosovo (Kfor) com um balanço de 80 feridos, incluindo 30 soldados, e que foram enviados para evitar confrontos diretos entre os sérvios locais e a polícia de choque kosovar.
Kurti também indicou ser imprescindível manter a negociação entre a Sérvia e o Kosovo, sob mediação da União Europeia, para garantir "uma aplicação urgente, completa e incondicional" dos acordos sobre a normalização das relações entre os dois países.
Estes acordos incluem a criação de uma associação de municípios sérvios, e que permitiria um grau de autonomia a esta minoria nacional.
Kurti também acusou o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, de praticar uma política "nefasta" e apelou aos sérvios do norte do Kosovo que participem na edificação do "Estado comum" kosovar.
Os sérvios locais, com o apoio de Belgrado, condicionam a sua participação nas eleições à retirada dos munícipes albaneses sem representatividade e da polícia especial kosovar, para além da formação de uma associação de municípios sérvios na sequência do acordo de Bruxelas de 2013, que Pristina tem recusado aplicar.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo -- a sua antiga província do sul e considerada o berço da sua nacionalidade e religião -- proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Os dois países negoceiam a normalização das relações assente num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, com o seu roteiro acordado por Belgrado e Pristina em março passado, mas que o atual aumento da tensão se arrisca a comprometer em definitivo.
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