O dirigente da Nova Democracia (ND), primeiro-ministro de 2019 até ao final de maio deste ano, deverá voltar a ocupar o cargo de chefe do Governo grego, com o seu partido a garantir uma maioria absoluta de 158 de um total de 300 mandatos parlamentares, quando estão contados 97% dos votos.
Durante a campanha, o político de 55 anos, próximo de Manfred Weber, o líder alemão do Partido Popular Europeu (PPE), prometeu aumentos salariais, numa altura em que o elevado custo de vida e os baixos rendimentos continuam a ser as principais preocupações dos cidadãos gregos.
Mitsotakis comprometeu-se também a proceder a contratações em massa para o setor da saúde pública, afetado por uma flagrante falta de meios desde a crise.
O seu primeiro mandato foi marcado pelo relançamento de uma economia ainda convalescente quando chegou ao poder, em 2019, após anos de drásticos planos de austeridade durante a aplicação dos quais o país perdeu um quarto do Produto Interno Bruto (PIB).
No ano passado, o crescimento atingiu 5,9%, mas em março deste ano, Mitsotakis enfrentou uma onda de revolta sem precedentes desde a chegada ao poder, na sequência de um acidente ferroviário que fez 57 mortos e foi imputado a graves falhas no sistema de sinalização da rede ferroviária nacional.
Oriundo de uma grande família política e proprietário de um património imobiliário substancial, a sua arrogância tem-lhe sido apontada pelos opositores, a começar pelo líder do Syriza (esquerda), o ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Nos últimos quatro anos, Mitsotakis procedeu a uma reforma na segurança, em particular com um reforço do dispositivo policial do país.
O seu mandato foi também marcado por escândalos, um dos quais de grandes dimensões, sobre escutas ilegais de figuras políticas e jornalistas pelo programa de espionagem ('spyware') Predator.
Omnipresente nas redes sociais, pôs em prática uma política de comunicação agressiva, num panorama da comunicação social caracterizado pela concentração dos grandes títulos e estações de televisão nas mãos de grandes grupos financeiros.
Enfrenta igualmente acusações recorrentes sobre o repatriamento de migrantes para a vizinha Turquia antes que estes possam apresentar os seus pedidos de asilo na União Europeia.
Kyriakos Mitsotakis sempre negou tais práticas, que foram atestadas por vídeos e inquéritos pormenorizados dos maiores meios de comunicação internacionais.
"Se ele tem saído impune, é devido a uma nova forma de populismo [...] sem retórica abusiva, sem excentricidade, sem alarde" como os do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, ou do ex-Presidente norte-americano Donald Trump, escreveu recentemente o diário alemão Süddeutsche Zeitung.
Após o naufrágio mortal, em 14 de junho, de uma embarcação transportando centenas de migrantes ao largo do Peloponeso, Mitsotakis tomou a defesa da guarda costeira grega, acusada por organizações não-governamentais (ONG) e sobreviventes de lentidão em intervir.
Defendeu igualmente uma política migratória "justa mas rigorosa" e prometeu, na primavera, prolongar o "muro antimigrantes" erigido na fronteira terrestre greco-turca.
Os quatro anos no poder foram ainda marcados por recuos no Estado de direito e na liberdade de imprensa, ao ponto de a Grécia ocupar, desde o ano passado, o último lugar da União Europeia (UE) na classificação anual da ONG Repórteres Sem Fronteiras, atrás da Hungria e da Polónia.
Procedente de uma dinastia política de Creta, Kyriakos Mitsotakis é filho do ex-primeiro-ministro Constantinos Mitsotakis (1990-1993); a irmã foi ministra dos Negócios Estrangeiros; um dos sobrinhos é o atual presidente da câmara de Atenas e outro foi seu conselheiro próximo até 2022.
Diplomado pelas universidades norte-americanas de Harvard e Stanford, Mitsotakis fez carreira como consultor financeiro em Londres, nomeadamente na McKinsey, antes de assumir o testemunho político da família.
Deputado da ND pela primeira vez em 2004, foi ministro da Reforma da Administração no auge da crise, tendo então procedido a cortes maciços de efetivos na administração pública.
Em 2016, um ano após a derrota do seu campo político contra a esquerda de Alexis Tsipras, foi eleito líder da Nova Democracia, antes de se tornar chefe do Governo, três anos mais tarde.
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