A missão do cardeal Matteo Zuppi, um veterano das iniciativas de paz da Igreja Católica, ocorre no momento em que o Kremlin ainda lida com as consequências da rebelião armada falhada no fim de semana, liderada pelo líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, que entretanto se exilou na Bielorrússia após terem sido retiradas as acusações que pendiam contra ele.
Os detalhes do programa de Zuppi em Moscovo não são ainda claros. Quando o cardeal visitou Kiev no início do mês, avistou-se com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy.
Em Moscovo, é provável que se encontre com o Patriarcado de Moscovo da Igreja Ortodoxa Russa, cujo líder apoiou fortemente a invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro do ano passado.
O Vaticano disse, em comunicado, que Zuppi espera encontrar "caminhos de paz" nos seus contactos.
Em Moscovo, Zuppi foi acompanhado por um funcionário da secretaria de Estado do Vaticano e o carro em que seguia foi visto a chegar à representação da Santa Sé na capital russa na noite de hoje, de acordo com imagens transmitidas pela televisão estatal italiana RAI, que informou que o enviado do Papa deverá ter reuniões com figuras religiosas e possivelmente políticas nos próximos dias, sendo incerto se terá uma reunião com o Presidente russo, Vladimir Putin.
Zuppi deve permanecer em Moscovo até quinta-feira, dia da festa dos santos Pedro e Paulo - data importante para os cristãos católicos e ortodoxos.
"O objetivo principal da iniciativa é encorajar gestos de humanidade que possam contribuir para favorecer uma solução para a situação trágica atual e encontrar caminhos para uma paz justa", afirma o Vaticano em comunicado.
Zuppi, de 67 anos, é o arcebispo de Bolonha, presidente da conferência dos bispos italianos e um veterano das iniciativas de mediação de paz da Igreja Católica através da sua filiação de longa data na Comunidade Santo Egídio, que já teve importantes resultados em resoluções de conflitos, nomeadamente nos acordos de 1992 que conduziram ao fim da guerra civil em Moçambique, tal como sucedeu na mesma década na Guatemala, a juntar a um cessar-fogo no Burundi, em 2000.
O Vaticano tem uma tradição de diplomacia silenciosa e de não tomar partido em conflitos, na esperança de ajudar a atingir resultados pacíficos.
A Ucrânia, porém, reiterou hoje que não precisa de mediação externa na guerra causada pela invasão russa, em reação à viagem a Moscovo do cardeal Matteo Zuppi e quando as forças de Kiev têm em curso uma contraofensiva dirigida às posições russas no país.
"A nossa posição é clara e expressamo-la muito abertamente: não precisamos de nenhuma mediação, e isso [acontece] porque tivemos más experiências. Não confiamos na Rússia", disse Andryi Yermak, chefe do gabinete do Presidente ucraniano, citado pela agência Ansa.
Yermak acrescentou, porém, que seriam bem-vindos resultados da mediação de Zuppi sobre as crianças deportadas para a Rússia e sobre troca de prisioneiros.
Leia Também: Ucrânia. Pelo dois mortos num ataque contra restaurante em Kramatorsk