"Vivemos em tempos extremamente difíceis. Vejo muitos israelitas dedicados cheios de imensa dor, frustração e uma ansiedade profunda e real sobre o que está a acontecer e o que ainda está para acontecer. Vejo claramente e ouço com atenção, e esses sentimentos sinceros são verdadeiramente desoladores", disse Herzog numa mensagem à nação na véspera de Tisha B'Av, o feriado judaico que assinala a destruição dos templos de Jerusalém.
O Knesset (parlamento israelita), com o apoio maioritário dos deputados da coligação governamental, aprovou segunda-feira uma das principais leis da reforma judicial, que elimina a doutrina da "razoabilidade", a que permitia ao Supremo Tribunal rever e anular as decisões governamentais com base no facto de serem razoáveis ou não.
"Com toda a honestidade, nos últimos dias, também eu acordei com um profundo sentimento de frustração e uma forte sensação de crise. Estou também num turbilhão de emoções. Também estou magoado e zangado", confessou Herzog.
O Presidente israelita disse ter tentado "até ao último minuto, pouco antes da votação da lei", fazer com que o Governo e a oposição retomassem as negociações para chegar a um consenso nacional sobre a reforma judicial, como fez na primavera, mas voltou a falhar.
"Como alguém que pensava que era possível um acordo e que trabalhou com todas as suas forças 24 horas por dia para construir pontes, chegar a um compromisso e dar uma ajuda, estou muito desiludido", insistiu.
Herzog alertou para a "polarização" da sociedade israelita e para os graves "danos sociais, económicos e de segurança" que Israel poderá sofrer como resultado da reforma, que provocou uma grave divisão nacional e os maiores protestos da história de Israel, que não pararam ao longo de mais de sete meses, desde que o plano de alteração do sistema judicial foi anunciado.
"No meio deste turbilhão de emoções, estou mais determinado do que nunca e não vou desistir nem perder a esperança [...]. Não há missão mais importante para mim, como Presidente e cidadão, do que curar e reunir o povo e salvaguardar o Estado de Israel e a nossa democracia", disse Herzog, apelando aos políticos para que "recorram ao diálogo" e "evitem a violência".
Herzog também se solidarizou com os mais de 10.000 reservistas, "patriotas até ao âmago", que se recusam a servir no exército em protesto contra a reforma, mas manifestou preocupação com a ameaça à segurança de Israel.
"Por favor, considerem cada movimento. Estou a contar convosco para manter o Estado de Israel estável e seguro", pediu.
O Supremo Tribunal israelita anunciou hoje que vai analisar em setembro os recursos apresentados contra a controversa lei aprovada segunda-feira que limita o poder judicial e é um dos pilares da reforma do Governo para a Justiça.
A decisão do Supremo Tribunal foi enviada hoje ao Movimento para um Governo de Qualidade em Israel, uma organização não-governamental local que recorreu da lei para o tribunal pouco depois de esta ter sido aprovada.
Embora o tribunal vá ouvir argumentos contra a lei, os juízes decidiram não bloquear a respetiva implementação e permitir que entre já hoje em vigor.
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