"Vivemos uma situação extremamente difícil. Não sei nem para onde ir. Tive de fugir de casa", disse à agência de notícias France-Presse (AFP) Elie Derisca, morador do bairro Carrefour-Feuilles, no sul da capital do Haiti.
De acordo com moradores e agentes policiais, o bairro está a ser atacado por um grupo de crime organizado liderado por Renel Destina -- também conhecido como Ti Lapli e procurado pela Polícia Federal dos Estados Unidos (FBI, na sigla em inglês).
"Eles saquearam e queimaram casas" e "causaram várias mortes", disse Derisca. "As autoridades não fizeram nada para vir em nosso socorro", lamentou o morador, acrescentando que membros do grupo ocuparam algumas casas.
As autoridades haitianas tinham confirmado na segunda-feira que casas foram incendiadas no bairro e que tinham também recebido relatórios sobre mortes, que não puderam ser verificadas até ao momento.
Pelo menos 3.120 pessoas fugiram do bairro Carrefour-Feuilles, de acordo com um relatório provisório do departamento de proteção civil do Haiti. Este número pode continuar a subir, disse uma fonte da instituição à AFP.
Na segunda-feira, muitos moradores do bairro manifestaram-se contra a insegurança e a Polícia Nacional do Haiti interveio para restaurar a ordem na área.
Num comunicado, a polícia prometeu "continuar a mobilizar todos os meios para afastar os bandidos que querem semear problemas nas comunidades".
O Haiti está a enfrentar uma grave crise humanitária, política, judicial e de segurança, segundo um relatório divulgado na segunda-feira pela Human Rights Watch, referindo que o país necessita de proteger os direitos humanos.
Cerca de 150 grupos criminosos operam em Porto Príncipe e na sua região metropolitana, muitos deles sob duas das principais alianças criminosas, a federação G-Pèp e a aliança G9, disse a organização não-governamental.
Nos próximos dias, o secretário-geral da ONU, António Guterres, deverá apresentar ao Conselho de Segurança opções para o envio de uma força internacional para ajudar a restaurar a segurança no Haiti.
A iniciativa surgiu em resposta a um apelo do primeiro-ministro haitiano, Ariel Henry, que lidera o país desde o assassínio em julho de 2021 do então Presidente, Jovenel Moise.
A ONU estimou que grupos criminosos no Haiti mataram mais de duas mil pessoas na primeira metade de 2023, sequestraram mais de mil e usaram violência sexual para aterrorizar a população.
As Nações Unidas acreditam que quase 60% da população haitiana de 11,5 milhões de pessoas vive abaixo da linha da pobreza. Quase 195 mil pessoas foram deslocadas internamente devido à violência desde 2022 e dezenas de milhares tentaram fugir do país.
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