Moçambique e Gana condenam golpes que "não resolvem" problemas de África
Os presidentes de Moçambique e do Gana condenaram hoje em Maputo os últimos golpes de Estado no continente, referindo que a ação não resolve os problemas de desenvolvimento de África.
© Kevin Dietsch/Getty Images
Mundo África
"Não acredito que não haja nada a falhar nos países asiáticos, europeus, como também nos países da América do norte, centro e sul, mas isso nunca ditou golpes", disse Filipe Nyusi, presidente da República de Moçambique, durante uma conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo do Gana, que está a realizar uma visita ao país.
Para o presidente moçambicano, não existem razões que justifiquem golpes de Estado, até porque em todos os países há problemas, acrescentando que há uma necessidade de se rever como é exercida a democracia no continente.
"Nós somos contra as mudanças inconstitucionais de poder e golpes de Estado que estão a acontecer na África ocidental, sobretudo porque estamos a ver uma tendência de descer para a África central", vincou igualmente Nana Addo Akufo-Addo, presidente do Gana.
Nana Addo Akufo-Addo defendeu que é preciso encontrar "melhores formas" de governação e "não através de intervenções militares", referindo que a situação só aumenta os problemas já existentes no continente.
"Se sempre que há um problema num Estado africano a resposta for um golpe, quando é que teremos a estabilidade que nós pretendemos para desenvolver o continente", questionou o estadista ganense.
Na quarta-feira, um grupo de militares anunciou ter tomado o poder no Gabão, pouco depois de a comissão eleitoral ter declarado a vitória de Bongo nas eleições presidenciais e legislativas do dia 26 de agosto, que a oposição considerou fraudulentas.
Os golpistas afirmaram que o escrutínio não foi transparente, credível ou inclusivo e acusaram o Governo gabonês de governar de forma "irresponsável e imprevisível", prejudicando assim a "coesão social".
No final do dia de quarta-feira, os líderes do golpe de Estado anunciaram a nomeação do general Brice Oligui Nguema, comandante da Guarda Republicana do país, responsável pela segurança do próprio chefe de Estado, como novo "presidente de transição".
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, condenou o golpe, descrevendo-o como uma "violação flagrante dos instrumentos jurídicos e políticos" da organização.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, associou-se à condenação, embora tenha alertado para a existência de irregularidades no processo eleitoral que conduziu à vitória de Bongo.
O golpe de Estado no Gabão - uma das potências petrolíferas da África subsaariana - é o segundo a ocorrer em pouco mais de um mês no continente, depois de o exército ter tomado o poder no Níger, em 26 de julho último.
O Gabão junta-se, para já, à lista de países que tiveram golpes de Estado bem-sucedidos nos últimos três anos: Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), Guiné-Conacri (setembro de 2021), Sudão (outubro de 2021) e Burkina Faso (janeiro e setembro de 2022).
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