Situada a 1.130 metros de altitude, a vila desenvolve-se em socalcos em duas encostas, cobertas de casas cor de ocre, que contrastam com o cenário inóspito de terra branca e praticamente sem árvores.
Algumas casas desabaram na totalidade, muitas outras ameaçam ruir e desapareceram partes de um caminho de alcatrão que atravessa a vila turística, cerca de 70 quilómetros a sul de Marraquexe.
Grupos de homens prendem estacas ao chão para servir de estrutura para mais algumas tendas, juntando-se a outras que já tinham sido montadas num descampado inclinado. Alheios aos trabalhos, burros famintos esgravatam o lixo que está espalhado por todo o lado.
Telas de plástico, mantas e bambus fazem as paredes, e, no interior, espalham-se colchões e cobertores, muitos cobertores. Cá fora, estão dispostas portas de madeira e de vidro intactas, que as famílias procuram preservar.
"O problema é que não há tendas, não recebemos até agora", diz à Lusa Said, que se encontra junto à mesquita a ajudar a distribuir pão e carne desfiada, acompanhada do tradicional chá de menta marroquino.
A ajuda chega de associações, principalmente. "Não há fome" nesta vila de cerca de 4.000 habitantes, garante.
Por sua vez, Khalid conta que já chegou ajuda à povoação, mas não foi entregue às pessoas. As autoridades ainda não tinham visitado My Brahim (como também é conhecida), dois dias depois do sismo, registado às 23:11 (mesma hora em Lisboa) de sexta-feira na região de Marraquexe e que fez mais de 2.800 mortos e mais de 2.500 feridos.
"Enviaram ajuda para outras zonas que não foram tão afetadas. As pessoas estão zangadas", afirma ainda Khalid, relatando que, depois da "catástrofe", os moradores têm medo de regressar às suas casas.
"Algumas parecem bem, por fora, mas estão destruídas por dentro. O sismo aqui foi de [magnitude] de 6,4 [na escala de] Richter, mas agora basta um de 2,0 e vem tudo abaixo", confidencia também à Lusa, contando que ainda se sentem muitas réplicas.
Questionada sobre como foi o momento do abalo, Hassna, 34 anos e nove filhos, responde: "'Oh my God' [ó meu Deus, em inglês]. Muito muito difícil".
Receando que a casa possa ruir, a mulher instalou-se, com a família, numa tenda improvisada. "Faz muito frio à noite", queixa-se.
Um camião para numa rua e rapidamente se aproximam alguns populares, enquanto homens descarregam meia dúzia de tendas e conjuntos de estacas de metal.
Uma mulher, de túnica negra até aos pés e lenço a cobrir a cabeça, veio a correr, mas vira costas, resignada. Ainda não foi a sua vez de receber um abrigo.
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