"Há 20 anos, ocupei esta tribuna pela primeira vez. Volto hoje para dizer que mantenho a minha inabalável confiança na humanidade, reafirmando o que disse em 2003. Naquela época, o mundo ainda não se havia dado conta da gravidade da crise climática. Hoje, ela bate às nossas portas, destrói as nossas casas, cidades, países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres", afirmou no seu discurso na abertura do debate da 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU.
O Presidente brasileiro alertou que "a mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento, a Agenda 2030, pode se transformar no seu maior fracasso."
"A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento. Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria tornar-se o objetivo síntese da Agenda 2030", acrescentou.
Lula da Silva defende que agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas.
"Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos para o clima", disse.
"A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado. Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas", acrescentou o chefe de Estado.
O Presidente do Brasil lembrou que a parcela da população mundial que está entre os 10% mais ricos é responsável por quase metade de todo o carbono lançado na atmosfera e que os países em desenvolvimento, não querem repetir esse modelo.
"Retomámos uma robusta e renovada agenda amazónica, com ações de fiscalização e combate a crimes ambientais. Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazónia brasileira já foi reduzido em 48%. O mundo inteiro sempre falou da Amazónia. Agora, a Amazónia está falando por si," acrescentou ao citar a Cimeira da Amazónia, realizada na cidade brasileira de Belém e que reuniu representantes dos nove países que tem parte do bioma no seu território.
"Somos 50 milhões de sul-americanos 'amazónidas', cujo futuro depende da ação decisiva e coordenada dos países que detêm soberania sobre os territórios da região. Também aprofundámos o diálogo com outros países detentores de florestas tropicais da África e da Ásia", acrescentou.
Lula da Silva afirmou que os países em desenvolvimento querem chegar à COP 28, no Dubai, com uma visão conjunta que reflita, sem qualquer tutela, as prioridades de preservação das bacias Amazónica, do Congo e do Bornéu-Mekong.
"Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade. A promessa de destinar 100 mil milhões de dólares (cerca de 93,5 mil milhões de euros na cotação atual) -- anualmente -- para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa", criticou o chefe de Estado brasileiro.
"Hoje esse valor seria insuficiente" para as necessidades", concluiu Lula da Silva, que está no terceiro mandato presidencial e volta ao plenário da ONU após 14 anos. A última vez que ele discursou como Presidente brasileiro foi na Assembleia Geral de 2009.
O 78.º debate da Assembleia Geral da ONU, ponto culminante da diplomacia mundial, foi hoje oficialmente aberto em Nova Iorque, onde o Secretário-geral da ONU, António Guterres também pediu "determinação" no combate ao sobreaquecimento do planeta, sustentando que as mudanças climáticas não são apenas uma mudança no clima, mas que estão a mudar a vida no planeta e a matar e devastar comunidades.
[Notícia atualizada às 16h30]
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